Vivemos momentos de grandes mazelas e perpetuação de vícios políticos que historicamente têm impregnado e consumido a vontade dos servidores públicos, em especial do setor agrícola do Estado e da sociedade, em construir um novo momento político. Mas ainda somos fortes o suficiente para nos opormos aos garimpeiros e saqueadores do poder público, travestidos de gestores no exercício de suas funções públicas, no poder executivo, no legislativo e no judiciário do Estado do Espírito Santo.
Cada vez mais, nós, servidores públicos do setor agrícola do Estado, vivemos atos de selvageria contra nossos direitos. E nesses últimos dias estamos vivendo esta selvageria e incoerência pública contra homens e mulheres que têm em sua função servir a sociedade, e não ao governante em exercício. Estes atos que estamos vivendo pela falta de compromisso do poder executivo e pela imoralidade no judiciário nos trazem a uma nova modernidade que se coloca contrária a toda e qualquer ação civilizatória e civilizadora por parte destes poderes.
O mínimo que podemos dizer é que esses atos estão distantes, muito distantes do que podemos dizer de aceitável, se é que podemos aceitar atos de selvageria como esta contra os servidores e servidoras do setor agrícola do Estado. Mas o Estado, teimosamente, insiste em sua tese única e demagoga: não temos dinheiro, não temos receita disponível. O que fica para nós é uma forte e incurável doença pela sensação da incompetência de gestão pública, hoje a única certeza. É lamentável o Estado chegar ao ponto que estamos chegando e vivendo, no presente, sem uma perspectiva de resolução ao futuro, que a toda hora nos chega, no dia a dia, pois a cada dia que se renovam as incompetências, as intransigências, a falta de diálogo, a falta de ética e moral nos poderes públicos constituídos, fica a certeza de vivermos rumo a um futuro já desgastado.
Hoje o crime que se apresenta contra os servidores públicos do setor agrícola do Estado está pautado em pontos como: desrespeito às perdas salariais historicamente reconhecidas, demagogicamente assumidas pelo executivo estadual, sem o compromisso de sua resolução. Esse desrespeito acentua-se quando vemos os incentivos de governo que se fazem presente apenas a uma pequena parcela da sociedade permitindo a estes setores deixarem de recolher até 70% do imposto devido, bem como a redução da base de cálculo de operações internas no mesmo percentual. Este Estado com essa velha prática nos dá a forte demonstração de presença em locais estratégicos de seu interesse político e econômico e não em conformidade com uma de suas diretrizes, que é a da distribuição dos frutos do progresso, como se nós servidores e servidoras públicos da agricultura não fôssemos a âncora e o alicerce neste processo, pois até agora essa distribuição não chegou a nossas instituições e não se fazem sentir em nossa vida, em nossas famílias.
Ouso chamar esta atitude de criminosa, que se soma a essa realidade que hoje vivemos e que historicamente estão vivas na memória de cada servidor público do setor agrícola do Estado, pois mais uma vez a pessoa do governador do Estado nos tira de seu convívio e de sua responsabilidade pública pelas suas últimas atitudes contra o servidor público retratadas por todos os jornais do Estado, repaginando sua ação história passada, no presente. O tema, respeito ao servidor e servidora pública do setor agrícola do Estado, teima a ser tratado por este governo de forma extemporânea e numa visão míope e unilateral, fazendo parte apenas de um problema a mais a ser tratado por uma gestão pública que já tem muitos para resolver, e a sensação prática que nos fica e de que vai ficando, ficando, até cair em seu total esquecimento.
Mas uma certeza fica: ninguém jamais esquece a dor sofrida, jamais. E fica a sensação de que o Estado não é para administrar dor e sim fatos. Como se esta dor não seja um fato. E fica outro fato: o Estado teima a não compreendê-la e se responsabilizar por sua resolução.
Enfim, o Estado está destruindo emocionalmente o próprio Estado, pois certamente desmerecer e desrespeitar o servidor público do setor agrícola, como tem sido durante os últimos 11 anos, todo dia, está levando este Estado a um caos e uma grave crise social e de gestão pública. E lógico que a melhor e mais atraente resposta é a própria sociedade, pois o gestor público teima em seu “rompante estado de exercício do ato democrático” dizer que “ninguém melhor do que ela – a sociedade, para propor as ações de resolução aos seus problemas”. Assim é o processo “participativo no espírito e na natureza da incompreensão da democracia pelos gestores públicos”, inserindo-se sem o comprometimento, ou seja, omissão.
Não. Não é tão simples assim sermos vencidos. Se estamos aqui cumprindo nosso papel como servidores públicos é porque não nos venceram. Somos sim vencedores, pois os governos acabam e nos ficamos. E entendemos que a solução de um problema que atinge um tamanho descomunal frente a uma categoria que se vê achatada pelo volume e intensidade desta violência a que está submetida, não terá a sua solução por uma visão rasa e rasteira. Exige uma participação e um compromisso do Estado em discutir, ou melhor, em querer discutir com o servidor, fato este negado há décadas pelos gestores públicos do Estado, negativa esta que se mantém neste governo. É preciso querer e ter a vontade verdadeira de sentar no banco da praça pública e, com a diversidade de ideias e conflitos que se estabelece manter o dialogo em busca da solução.
O assunto é difícil de ser digerido, sobretudo por gestores públicos que historicamente tem preferido tomar decisões centralizadas em seus confortáveis espaços de poder ao estar junto com o sofrimento dos servidores públicos. Não se pode centralizar a decisão e a forma de ação em um único poder, pois sem a participação e o protagonismo dos servidores públicos não teremos a garantida da continuidade das ações. Ou seja, novamente serão reproduzidos as mazelas e vícios históricos que impregnam e consomem a verdade e a vontade de se construir um novo momento para o Estado, em se construir e vivermos em um Estado verdadeiramente presente.
Texto de autoria do presidente da Associação dos Servidores do Incaper (ASSIN), Adolfo Brás Sunderhus