Formação, reflexão e atividades culturais marcarão a I Festa Capixaba das Sementes Crioulas – Das mãos camponesas o alimento para a sua mesa. O evento será realizado pelo Movimento de Pequenos Agricultores (MPA), entre os dias 25 e 27 de abril, em Campinho, Domingos Martins. A festa, segundo o coordenador estadual do MPA, Leomar Lírio, tem como objetivo debater com os trabalhadores do campo e da cidade sobre a importância de preservação da semente crioula.
“As sementes crioulas são aquelas que foram preservadas pelos nossos ancestrais, como o milho, a mandioca e diversos tipos de banana. São sementes que não passaram por mutações genéticas feitas pelas empresas do agronegócio. Sua preservação é muito importante para garantir uma alimentação saudável para todos, inclusive para os moradores da cidade. Por isso que, por meio da festa, queremos dialogar também com eles, e não somente com o campesinato”, explica Leomar.
Segundo o coordenador estadual do MPA, o Incaper tem grande importância na preservação da semente crioula. “Existem agricultores familiares que possuem sementes crioulas em casa. Queremos refletir junto com eles sobre a necessidade de cultivá-las para dar continuidade à preservação desses alimentos. E o trabalho do Incaper é fundamental para auxiliar os agricultores no que diz respeito à produção e comercialização”, acredita Leomar.
Na programação da festa constam palestras e oficinas, que serão realizadas na Escola Municipal Mariano Ferreira. O evento começa com a palestra Campesinato e Biodiversidade, na manhã do dia 25. Na manhã do dia seguinte o tema a ser debate será Experiências de Reprodução e Conservação de Sementes. Nos dois primeiros dias do evento, à noite, haverá atrações culturais na praça de Campinho, sendo que no dia 26 quem subirá ao palco será o cantor Pereira da Viola. O último dia da festa, 27, contará com a abertura da I Feira Estadual das Sementes Crioulas, culto ecumênico, barracas e apresentações culturais. As atividades culturais do dia 27 têm início na parte da manhã e acontecerão na praça de Campinho.
Utilizadas desde os tempos pré-coloniais pelos índios e pelas comunidades dos povos tradicionais, as sementes crioulas sobreviveram e chegaram aos dias atuais pela prática da agricultura tradicional, na qual as famílias as conservaram, selecionaram, melhoraram e as trocaram entre si, pois, se dependesse da “política do agronegócio”, estas sementes jamais existiriam. Elas ganham diversos nomes de acordo com a região: “sementes da paixão” na Paraíba, “sementes da fartura” no Piauí, “sementes da resistência”, em Alagoas, “sementes da liberdade” em Sergipe, e “sementes da gente” em Minas Gerais. Agora , as comunidades rurais camponesas vêm se organizando para a criação de bancos de sementes crioulas, que podem ser familiares, comunitários ou regionais.
Por acreditar nesta riqueza cultural social produtiva e econômica, a Associação dos Servidores do Incaper (Assin) participa como parceira da realização deste evento como representante dos servidores e servidoras do Incaper. “A Assin tem o entendimento que as ações de pesquisa assistência técnica e extensão rural junto aos agricultores familiares e camponeses do Estado deve priorizar esta ação, uma vez que as sementes crioulas são variedades locais mais rústicas, mais adaptadas às condições locais e regionais e geralmente são menos exigentes em nutrientes. Outro fato a ser destacado é que são cultivares que vêm sendo selecionados e guardados pelas famílias rurais por varias gerações e são, sem duvida alguma, um elemento fundamental, ou, como dizem os mais técnicos, “insumo” para o fortalecimento e desenvolvimento da agricultura familiar e camponesa, uma vez que apresentam uma grande variabilidade genética. Por isso, não podem ser desconsideradas no melhoramento e desenvolvimento de novas cultivares”, diz o presidente da Assin, Adolfo Bras Sunderhus.
Além disso, ele destaca que as sementes crioulas têm mostrado que, talvez pela sua resistência natural e pela sua adaptação ao meio ambiente, em muitos casos produzem até mais do que as sementes “oficiais ou comerciais”, que exigem custos adicionais que só dão lucro se plantadas em larga escala. As sementes crioulas chegam livres de agrotóxicos e não precisam de despesas com os “cuidados adicionais” formatados pelos pacotes tecnológicos do agronegócio capitalista.