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Respeite todas as religiões: 21 de janeiro, Dia de Combate à Intolerância Religiosa

Por 21 de janeiro de 2020Assuntos Gerais

A Assin respeita a todas as religiões, e convida as/os associados a refletir, neste 21 de janeiro, quando se celebra o Dia de Combate à Intolerância Religiosa, sobre as suas posturas quanto à religiões do outro.

Para isso, entrevistamos dois associados, o servidor Ronildo Gabriel dos Santos, auxiliar de campo na Fazenda de Viana; e o aposentado Wilson José Ribeiro, que atuou durante 39 anos como assistente de suporte em Desenvolvimento Rural.

O Ronildo é evangélico e há 30 anos frequenta a Igreja Cristã Maranata; já o Wilson é candoblecista. Como ele mesmo conta, nasceu e viveu, por muitos anos, como cristão, de criança até o início da juventude, dentro dos ensinamentos protestantes da Igreja Batista. “Com o passar dos anos fui conhecer o espiritismo e viver minha vida espiritualista na Umbanda. Depois, dando seguimento e complementando meu ciclo espiritual, eu me iniciei na Nação de Ketu, do seguimento candomblecista”, explica.

Confira nossas entrevistas.

 

Qual a sua relação com a sua religião? Sempre está em contato com ela?

 

 

Ronildo Gabriel dos Santos – Os nossos cultos são diários, exceto às sextas-feiras, quando acontecem nos lares, com cada membro realizando o culto em sua residência. São diários, agradáveis, de curta duração – entre 30 e 40 minutos – e ainda fazemos visitas nas residências de quem solicita, após os cultos. Os cultos não são exclusivos para um grupo de membros. Todos os visitantes têm acesso aos nossos cultos, tanto na escola bíblica dominical, às 10h, que ainda é feita por transmissão via satélite; quanto nos cultos noturnos, às 19h30. Quando estou de férias, da universidade, vou todos os dias; e quando retorno às aulas, participo nos finais de semana. Mas a minha relação é diária, e o que me fez aproximar mais é porque a doutrina não é do homem, que julga; ela parte da Bíblia, do Espírito Santo, onde a construção não é de fora pra dentro, imposto, mas de dentro pra fora. Você vai sentindo que deve mudar certas coisas e percebendo que aquilo que anda fazendo não é lícito. Você não é determinado a parar de fazer certas coisas, você automaticamente para. Tudo que eu fazia antes e deixei de fazer, por exemplo, ninguém nunca chegou para mim e disse que não poderia mais. Por si só, o Espírito Santo chegou a mim e começou a me transformar. Essa construção, essa intimidade, é muito boa para o indivíduo; e é o que me prende a essa religião.

Wilson José Ribeiro – Como disse, iniciei na Umbanda e, depois, no Candomblé. Quando completei sete anos de iniciado, me tornei um Zelador de Orixá, conhecido, por muitos, como Babalorixá, ou, para os leigos, Pai de Santo. Essa função foi me dada pelo Orixá que me rege, porque eu sou de Oxossi. Quando foi me dado esse posto, conciliei a minha vida, o meu trabalho, com a minha religião, com a casa a qual comecei a comandar e iniciar outras pessoas. De segunda à sexta-feira eu trabalhava das 8h às 18h, e aos sábados eu atendia às pessoas que me procuravam para resolver problemas diversos – problemas espirituais, materiais e de saúde – às quais eu dava uma orientação, porque eu sou um instrumento, não sou mágico, sigo as informações dos Orixás. A minha casa segue aberta e fica na Rua Paulo Setúbal, nº 52, Parque Residencial Laranjeiras, Serra, Espírito Santo. O nome do meu Ile Axé, da minha casa, é Ile de Oxossi e Oxum.

 

 

 

Quando começou a fazer parte dessa religião?

G. S. – Eu comecei nessa igreja em 1990, tem 30 anos. A Maranata, todos os meses, tem um foco para orar para um determinado grupo ou classe. Por exemplo, um mês para as autoridades, outro para os estudantes, e em cada mês é uma orientação. E tem o mês que é para os familiares. Nesse mês, minha irmã, já era da Igreja, me fez um convite, muito forte e profundo, e eu aceitei. Fui, gostei da forma de culto, que foi muito bom para minha alma, e eu entendi que era aquela que eu queria. Não te pedem nada. Não pedem dinheiro (não que as que peçam estejam erradas), mas é uma igreja que não lhe forçam a nada. Eu me identifiquei muito com a Maranata e com o convite feito, que foi muito agradável. Ela disse que a Igreja estava o mês todo orando por mim, e eu quis ir. Fui bem assistido, praticamente toda a Igreja me abraçou, e resolvi participar.

J. R. – Eu procurei o Candomblé em setembro de 1975. Um ano depois de começar a trabalhar no Incaper, e iniciei na religião Afro-brasileira candomblecista em maio de 1976.

 

Já sofreu com a intolerância religiosa? Pode nos dar um exemplo?

G. S. – Quanto à intolerância, eu digo que nunca sofri. Porque a intolerância que chega a mim é, até, por um lado, bom. As pessoas chegam e falam: “Não gosto da Igreja Cristã Maranata porque é uma Igreja onde o povo é metido, só anda bem arrumado, parece um desfile de moda…”. Eu entendo como intolerância, mas não vejo como algo tão grave ao ponto de achar que já sofri intolerância. Talvez seja pelo meio onde convivo, mas acho que nunca sofri.

J. R. – Sim. Porque todo espiritualista, independente do seu seguimento, se é kardecista, umbandista ou candomblecista, já sofreu alguma ofensa de fiéis de outras religiões, incluindo católicos e neopentecostais. Esses, quando se deparam com algum espiritualista, já nos designam a alcunha de macumbeiro. Cristo, quando esteve na Terra, não deixou denominação nenhuma de religião. Pelo pouco que eu sei, ele designou o apóstolo Pedro para, sobre uma pedra, construir sua Igreja, mas não disse qual seria nem qual o nome teria. Quanto à intolerância, a gente vê o constante aparecimento de várias religiões, em especial as neopentecostais, que infelizmente preferem, ao invés de ensinar aos membros da comunidade o amor ao próximo, promover a guerra santa, por defender que a Igreja deles seria a melhor, enquanto se julga e ataca as demais religiões, até mesmo as outras igrejas protestantes. Hoje acompanhamos reportagens, principalmente em Salvador, São Paulo e Rio de Janeiro, com casas de candomblé sendo apedrejadas, invadidas, fechadas por traficantes… E, aos poucos, sabemos que isso é induzido por grupos de pessoas que assumem ser protestantes. Importante lembrar que todos nós somos crentes, mas do que adiante afirmar ser crente se nosso comportamento demonstra o contrário? O melhor é saber viver, viver bem e em prol do semelhante.

 

 

Qual mensagem gostaria de passar aos demais, independente da religião, no dia de combate à intolerância religiosa?

G. S. – Gostaria de deixar uma mensagem que ouço todos os dias na Igreja. A mensagem é: Jesus vai voltar. Independente da pessoa crer ou não, de ser intolerante ou não, Jesus vai voltar. E gostaria de frisar que um dos motivos que me faz ser muito próximo a essa Igreja e ter essa relação muito íntima é porque ela fala da volta de Jesus. Eu acabei crendo, através das profecias e dos sinais que acontecem nos dias de hoje, e através da Bíblia, de que Jesus vai voltar.

J. R. – O Deus criador é único. Único! Ele quem criou todas as coisas, e não deu denominação a nada. O ser humano quem criou as denominações. E hoje vivemos essa guerra, aí, de um querendo ser melhor do que o outro, de que “eu faço e você não faz”, de que “na minha Igreja acontece o que na sua não acontece”, de que “se você deixar essa vida mundana você será salvo”… É uma disputa de poderes. Eu procuro fazer a minha parte, dentro do caminho que me foi incubido, de aceitar o meu próximo e respeitá-lo. E dentro do poder a mim conferido, de tentar ajudar ao próximo através das orientações dos Orixás, eu venho tentando fazer o melhor. Além de dizer às pessoas que precisamos ser humildes, respeitar a vontade de cada um, respeitar os vícios de cada um e aprender a conviver com os mesmos. Nada que adquirimos nessa Terra, de bens materiais (imóveis, veículos, propriedades, jóias, dinheiro), importa. Na hora de prestar contas com quem nos criou, nada disso vai adiantar. Só vamos levar, daqui, os momentos que vivemos com nossos semelhantes e as boas ações que praticamos. É importante parar uma hora e pensar, fazer uma reflexão para avaliar onde estamos errando, o que estamos fazendo e o que podemos fazer para o nosso semelhante. Para quando chegar o momento de partir desta Terra, nós irmos tranquilos, porque não sabemos o que nos espera em outra vida. Sejamos felizes. Vamos respeitar a diversidade, as vontades e os prazeres de cada um. Fazer o melhor que temos a oferecer já é o bastante, e assim seremos muito mais felizes.

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