O debate, como um modelo de comunicação oral, busca construir, aprofundar e esclarecer questões que se apresentam, através de argumentações sobre um determinado tema, discutindo-os a partir das contradições e das divergências de ideias, defendendo e validando opiniões e buscando a verdade sobre os fatos e no propósito de encontrar as soluções para elas.
No que se refere a um “debate político” este, de maneira bem sutil, começa mesmo que ainda restrito a chamada classe política, a tomar conta do nosso dia a dia, invadindo inclusive as ruas.
Nos últimos 30 anos, tudo que temos presenciado nos leva a achar que política é “algo” sem relevância para a sociedade e para as pessoas nela reunidas. Isso por que no “debate político” permanecem os velhos hábitos de dar “tapinha nas costas”, do popular “abraçar a sociedade”, atitudes que estão longe de permitir ou provocar o diálogo e o espaço necessário para um debate maduro e comprometido com a verdade. Hoje a política ainda é considerada um verdadeiro saco para as pessoas.
É chato porque o modelo do “debate político” produz pouca capacidade de mudanças, servindo apenas como um meio de chegar ao poder para os que debatem de tudo, menos a realidade da sociedade. Tanto isso é verdade que as expressões e linguagens utilizadas pelos “expositores”, são disputadas entre eles, o que historicamente demonstra uma forma de fazer política que enfraquece a relação de confiança com a sociedade.
Vemos brigas, disputas e rachas entre grupos de interesse, além de discussões intermináveis sobre questões que historicamente não são resolvidas, demonstrando que a sociedade não acredita mais que este modelo seja capaz de causar as mudanças necessárias no dia a dia de todos e todas.
O “debate político” precisa sair do seu “monólogo” e do simples jogo de palavras. Necessita se reinventar, pois o atual modelo é incapaz de produzir e reproduzir propostas que expressem o compromisso público com as necessidades da sociedade, já cansada de ser colocada em uma arena onde o jogo é o de manter a prática do já ultrapassado modelo “pão e circo”. Esta prática enoja e provoca uma espécie de antipatia nas pessoas, pois está longe de ser a chave para mudar verdadeiramente a sociedade.
Neste cenário os protagonistas estão invertidos em sua escala de poder e representação, pois aqueles que hoje se dizem “representantes da sociedade” estão muito aquém de cumprirem sua função, negando à sociedade o seu direito de ser a real protagonista das revoluções e transformações necessárias para sua evolução e crescimento.
O verdadeiro “debate político” precisa ser excitante, mas não pode ser simplesmente divertido e alegre; precisa ser contagiante, mas não pode ser cansativo. Não pode ser opressor, pois a sua essência é de natureza libertadora e deve indicar os caminhos para que o exercício da política não seja apenas o de discutir coisas, mas sim de agir de forma direta e com rapidez para melhorar a vida das pessoas no presente, projetando esta melhoria para o futuro.
Portanto não podemos ficar “perdendo” tempo discutindo sobre coisas que se tornarão irrelevantes para o conjunto da sociedade, como por exemplo, usar o espaço do “debate político” para manutenção de um mandato político. Este, ao contrário do que atualmente é colocado em prática, deve expressar a vontade e a crença de que podemos sim nos sacrificar pela causa coletiva, mas nunca pela individual e muito menos para proteger um mandato. Este ato deve ter o propósito afirmativo de estabelecer, na vida das pessoas, o atendimento de suas necessidades, tanto pessoais como coletivas.
O “debate político” não pode ser apenas “algo” ou “alguma coisa”, precisa de novos valores e verdadeiramente expressar fatos relevantes para transformação da vida das pessoas e para a organização e sustentabilidade da sociedade de hoje e de amanhã. Quanto mais este estiver distante da realidade da sociedade, mais se tornará insignificante e, menos real e urgente será, se tornando cansativo e sem necessidade.
Como está sendo praticado é ultrapassado e desatualizado, uma vez que não vivemos mais com as mesmas características sociais, nem possuímos as necessidades do século passado. As abordagens e os métodos precisam ser urgentemente reconstruídos para a atual realidade desta sociedade, que já pensa inclusive no próximo século.
Precisamos de uma revolução na forma como o “debate político” é apresentado atualmente, se quisermos uma renovação da representação política. Não se pode aceitar que o velho modelo de altos salários e grandes benefícios dos nossos representantes políticos virem moeda de troca entre eles, atendendo unicamente aos próprios interesses, quando o que se necessita é que se dê alta prioridade, urgentemente, no atendimento aos anseios da sociedade.
Se estamos do jeito que estamos, é porque o “debate político” e o exercício da representação política, nunca foram voltados para a sociedade. Chega desses desmandos e dessa chatice.
Adolfo Brás Sunderhus é Engenheiro Agrônomo e Coordenador Executivo da FASER
Thanany Machado Dario é Advogada e Pós graduada em Direito do Trabalho e Processo do Trabalho