O ambiente em que vivemos, desde os seus primórdios mais remotos, passa por importantes transformações em sua dinâmica natural, deixando como resultado fortes alterações sociais, políticas, econômicas e ambientais que, se não interpretadas e entendidas de forma racional e com o equilíbrio necessário, certamente colocaram em risco a sustentabilidade de todos e todas que nele vivem, e da própria sociedade.
No início, tínhamos uma realidade nômade de socialização e de mercado, em que as atitudes tinham como objetivo atender às necessidades básicas de sobrevivência das pessoas. A evolução das sociedades, seja de forma natural seja por imposição de vontades e busca por poder, produziu um crescimento populacional e transformou a organização das pessoas, aumentando significativamente sua busca para manter o atendimento as suas necessidades de alimentação, crescimento econômico e seus interesses pessoais e políticos, sem levar em conta a necessidade de equilíbrio com o ambiente em que vive esta sociedade.
A solução para vencer este desafio do crescimento foi através de práticas intensas sobre os recursos naturais, tanto por um “novo modelo de agricultura”, com base em agressivos químicos, quanto pela intervenção para “construção de cidades”. Em tese, essas “soluções” definiam sua importância nos objetivos de facilitar a troca de informações, bens materiais, conhecimentos, formação de instituições fortes e de produção de alimentos, assim como de bens e serviços, entre outros. Tudo isso com forte impacto sobre o ambiente natural, por um processo e por meio de projetos de intervenção e agressão para potencializar a criação de áreas de múltiplos usos: produção de alimentos, comércio, habitação e instituições sociais e públicas.
Se observarmos os últimos 50 anos, veremos que esse processo se multiplicou de forma exponencial e passamos a conviver e a buscar entender expressões novas como: aquecimento global, descongelamento de geleiras, secas e enchentes mais constantes, todos com fortes impactos à vida das pessoas e de toda sociedade. Campos de produção sendo ceifados, desmoronamentos nas cidades… Tudo isso. em grande parte e com consequência da atividade humana, passa a cada ano a chamar a atenção de todas as pessoas para as mudanças ambientais – de uma forma que não se via antes ou, quando existentes, de forma mais branda.
Entender essa realidade é, hoje, uma obrigação não somente da ciência ou dos cientistas, mas sim de toda a sociedade, bem como levar o devido esclarecimento sobre o tema, que é de fundamental importância para sustentabilidade de toda socioedade, desta ou daquela instituição ou grupo social.
Uma reflexão que se faz necessária, tanto na roça quanto na cidade, é a de encarar e definir o papel do ser humano, das pessoas e das instituições no mundo, no ambiente local e regional. Essa atitude e comportamento definem a necessidade de preparação das pessoas para esta nova realidade, enquanto membros de uma mesma época e de ambientes que, mais do que nunca, se mostram em desequilíbrio, com uma forte necessidade de entendimento no emprego de tecnologias e formas de relacionamento que permitam evitar desastres ambientais, bem como conhecer e utilizar novas oportunidade e tomar decisões mais acertadas.
A natureza na evolução e no crescimento da sociedade não pode, de forma alguma, continuar a ocupar uma posição de subserviência em relação às pessoas. O conhecimento sobre a natureza não permite, à sociedade e aos governos, que seja dominada e explorada, nem para ser usada para satisfazer o poder de corporações que buscam apenas o lucro pelo lucro, garimpando o ambiente e suas relações naturais.
A natureza e os ambientes de produção de alimentos e de construção de cidades precisam, urgentemente, de serem pensados com mais inteligência e com maior relação proativa com o ecossistema local e regional. Não é mais concebível, de forma alguma, que a natureza no século XXI seja conhecida como um ambiente a ser explorado e dominado.
A natureza não é algo separado e inferior à sociedade humana.
Texto de Adolfo Brás Sunderhus, engenheiro agrônomo, extensionista rural aposentado do INCAPER e operário da terra. Aprendendo com o saber das famílias da roça, suas práticas e experiências. Escrevo o que acredito e o que sinto.