Toda sociedade é fortemente influenciada por movimentos sociais, econômicos e políticos e por revoluções. Todos mexem e remexem com as estruturas existentes, expondo suas fraquezas e seus limites.
O momento que estamos vivendo no século XXI, nos primeiros meses do ano de 2020, assemelha-se ao prefácio acima. Vivemos um momento de um forte achacoalhar em nossas verdades sociais e de relação com o meio ambiente, com uma forte reflexão sobre o modelo político então vigente.
Temos um histórico político que foi construído com um caráter conservador pelas elites, cabendo a elas o poder de sua centralização, muitos dos quais advindos de diversos golpes que, por sua natureza e necessidade de afirmação política desta elite, estabeleceu uma ruptura jurídica com a perda dos direitos sociais, trabalhistas e previdenciários. No ano de 2014, instala-se um forte momento político ideológico cujos discursos apresentam-se com uma “forte verdade pessoal”, de natureza individual, carregando sobre os ombros do “novo Estado” os compromissos, as responsabilidades e os interesses de natureza política e econômica de uma parcela mínima de grupos e corporações, que estão distantes da realidade vivida pelo conjunto majoritário da sociedade, na prática forçando uma falsa ação legitimadora do que querem como sendo sua verdade.
Mia Couto nos brinda com uma importante reflexão: “a maior desgraça de um país é que, em vez de produzir riqueza, vai produzindo ricos”, e continua “outros problemas das nações pobres é que, em vez de produzirem conhecimento, produzem doutores, em vez de promover pesquisa, emitem diplomas”. “Outra desgraça de uma nação pobre é o modelo único de sucesso que vendem às novas gerações. E esse modelo está bem patente nos vídeo-clips que passam na nossa televisão: um jovem rico e de maus modos, rodeado de carros de luxo e de meninas fáceis, um jovem que pensa que é americano, um jovem que odeia os pobres porque eles lhes fazem lembrar a sua própria origem”.
Não temos outra opção a não ser nos organizarmos em nossa base social com conhecimento que inspire e fortaleça nossa coragem e nossa vontade de fazermos o enfrentamento necessário para romper com esta realidade, mostrando que é possível, sim, construirmos uma nova sociedade e um novo pensamento mais coletivo, mais justo e mais humano.
Está na hora de escolhermos para o poder político, executivo e legislativo, não mais os (as) arrogantes, mas sim aqueles (as) que demonstrem e realmente tenham em sua vida política uma prática mais tolerante, de maior escuta a todos e todas.
Nos faltam gestores públicos com capacidade administrativa e gerencial, que saibam conviver com as divergências e que tenham a prática do saber ouvir.
Sunderhus, Adolfo Brás. Engº agrônomo. Operário da terra. Aprendendo com as práticas e experiências dos agricultores (as) familiares. Por um lugar na roça e no roçado para todos e todas!