Neste ano, a Organização Meteorológica Mundial (OMM), das Nações Unidas (ONU), completa 70 anos. A agência, desde 1951, é especializada em meteorologia, hidrologia operacional e ciências geofísicas relacionadas. O órgão, referência mundial em estudos climáticos, escolheu como temas para o dia 23 de março de 2020, quando se celebra o Dia Mundial da Meteorologia, a água e o clima.
“O tema é muito pertinente, especialmente se pensarmos sobre os extremos climáticos, em especial nos excessos e nas faltas de água. E logo a água, que é quem move a vida do nosso planeta – produção agrícola, recursos hídricos, produção animal, ambiente marinho, rios, lagos, produção pesqueira. Não tem como não concordar que a água merece ser celebrada”, destaca Hugo Ramos, coordenador do Sistema de Informações Meteorológicas do Incaper.
Em homenagem a todos os profissionais que atuam no Incaper com os serviços meteorológicos, a Assin conversou com Ramos novamente. Desta vez para falar mais sobre essa profissão, seus desafios e a importância dela para o nosso dia a dia. Boa leitura!
Assin – Quais é a importância da meteorologia atualmente?
Hugo Ramos – A meteorologia é, basicamente, importante para todas as áreas da vida do planeta. Por exemplo, se você for fazer um planejamento de plantio e colheita, a disponibilidade hídrica é fundamental à agricultura. Ao pensar nas questões logísticas, de transporte marítimo, aérea, ferroviário ou rodoviário, as condições meteorológicas interferem nos prazos de entrega dos insumos. Sobre as questões relacionados aos impactos causados pelos eventos meteorológicos extremos na população, os serviços públicos precisam desse acompanhamento do clima e do tempo. Até no esporte e no lazer a meteorologia está inserida. É uma das ciências mais completas, da atualidade. Ela faz parte do nosso dia já a partir do café da manhã, após as previsões meteorológicas.
A – Como ela pode nos ajudar a prevenir tragédias (como enchentes ou secas)?
H.R. – Mesmo sendo uma ciência antiga, a meteorologia teve o seu desenvolvimento científico muito recente, com crescimento a partir da criação dos computadores, que ajudou na equalização desse conjunto de equações físicas e matemáticas sobre os movimentos atmosféricos junto com os dados observados nas redes de estações meteorológicas, permitindo que fossem explicadas as previsões de chuvas e temperaturas em certa área do globo. Ao permitir essa previsão, a meteorologia passa a apontar os riscos climáticos que podem vir a ocorrer em determinada região, a exemplo de chuvas fortes, vendavais, granizo, descargas elétricas, quedas bruscas de temperatura, entre outros, que alteram a rotina da vida das pessoas.
A – Atualmente, quais os principais desafios da meteorologia?
H.R. – Por interferir diretamente na vida das pessoas, os desafios da meteorologia estão, principalmente, na busca por melhorar e aperfeiçoar seus equipamentos e estudos. Os países do hemisfério sul ainda não têm uma estrutura de dados que melhorem a confiabilidade do processo de previsão, assim como não têm um conjunto de sistemas de observação que apontem o estado real da atmosfera. A maioria das informações, hoje, é compartilhada através de cooperações internacionais com os países detentores dessas tecnologias e informações. Hoje, no Brasil, ainda nos falta uma integração maior para que o conjunto de dados compartilhados permita um crescimento da pesquisa e do estudo sobre as condições meteorológicas, em nosso país. Além disso, o número de profissionais ainda é muito pequeno, com aproximadamente 2 mil profissionais, num país com dimensões continentais e variações de climas entre as regiões, e muitas regiões sem profissionais. No Espírito Santo, por exemplo, são cinco meteorologistas no Incaper e mais um professor.
A – No ES, como é feita a meteorologia pelo Incaper?
H.R. – A relação do Espírito Santo com a meteorologia já dura algumas décadas. A começar com as primeiras estações meteorológicas instaladas pelo Governo Federal, em nosso Estado, nas primeiras décadas do século passado; indo para a instalação de uma rede de observação para atender a agrometeorologia, via Secretaria de Agricultura, nos anos 1940; passando pela criação da Encapa, nos anos 70, e a presença de pesquisadores da área de meteorologia; até chegar ao ano de 2005, com a criação do projeto do Sistema de Formações Agrometeorológicas do Espírito Santo, com a chegada dos primeiros bolsistas da área, para atuar no Núcleo Regional de Previsão do Tempo; e atingir, em 2012, através do concurso do Incaper, a admissão dos primeiros meteorologistas do Estado. A partir daí, com o seu quadro próprio, o Estado teve o avanço da consolidação dos trabalhos na área da meteorologia. Hoje, o serviço de meteorologia do Incaper, além de gerar as informações voltadas para o público do Incaper, na agrometeorologia, também fazemos a previsão do tempo para todo o Estado. Mas é preciso, agora, ampliar e atualizar a estrutura e a capacidade dos serviços para conseguir atender a demanda crescente da população e do Estado.