Texto escrito por Adolfo Brás Sunderhus*
A ATER, na atual gestão do Governo do Estado do Espírito Santo, vive dois cenários quando lançamos um olhar para o futuro. Diria que um é otimista, ante o possível cumprimento das promessas de campanha, enquanto outro se revela pessimista, perante os empecilhos impostos por essa mesma gestão para o fortalecimento de uma política pública de desenvolvimento sustentável para agricultura familiar no estado. O viés otimista somente será conquistado quando tais obstáculos que alimentam o atual cenário pessimista forem vencidos.
Esse cenário pessimista se agiganta diante do golpe institucional da atual diretoria do Incaper, que imputa uma imensa violência contra todas as categorias profissionais a partir de um ato de negação em ouvir e em respeitar toda luta histórica da ASSIN na construção e no fortalecimento desta política pública. Essa visão intencionalmente distorcida que os gestores do Incaper demonstra o descompromisso com a responsabilidade que o cargo público lhes impõe, promovendo a negação dos direitos de todas as categorias de servidores/as do Instituto, lançando por terra todo o protagonismo dos trabalhadores/as de ATER e deixando órfã a Agricultura Familiar do estado.
O momento em que vivemos, onde as propostas construídas de forma participativa e coletiva pela ASSIN junto aos/às associados/as e servidores/as do Incaper, são desconsideradas e mostra que a ação do governo do Estado e da atual diretoria do Instituto se revela como uma ação política, alinhada ideologicamente ao executivo federal, entre a gestão e o poder, com o objetivo único de sucatear e desmantelar o serviço e as políticas públicas para a ATER e a Agricultura Familiar.
Esse “alinhamento”, por sua vez, expõe um Governo do Estado que se distanciou de seu compromisso público e que não demonstra um mínimo de esforço no sentido de respeitar e resgatar toda construção histórica dos/as servidores/as do Incaper. Sequer busca diante de todos os fatos revelados a mínima habilidade necessária para ouvir o contraditório, prática esta que subverte toda ordem construída de forma democrática e coletiva.
Torna-se evidente que o Governo do Estado se comporta e assume coexistir em um “ambiente de jogos”, onde quem tem o poder econômico e político ganha mais, alimentando a máxima deste ambiente, em que dar as cartas e controlar as fichas passa a ser o objetivo final. Muitos jogam, mas poucos ganham, e o “dono da casa” nunca é o perdedor.
Agindo dessa forma fica em nós o sentimento de que a política pública de ATER está sendo colocado a leilão. Todavia, a perda será grande para a governança e seus gestores, pois negando o direito dos/as servidores/as a uma efetiva participação na formação de uma decisão quanto ao futuro do Incaper estarão selando a perda de sua dignidade, do respeito e do futuro político, pois não serão capazes de apagar a coragem, a determinação, a resiliência e a luta da ASSIN e dos/as servidores/as do Incaper.
Podem nos violentar, podem fazer mudanças para lá ou para cá, mas quem tem história verdadeira e compromisso com a agricultura familiar capixaba não será vencido por “governos” que trazem apenas um momento passageiro e que caminham com uma carroça vazia e barulhenta.
* Engenheiro agrônomo e operário da terra. Aprendendo com as práticas e experiências dos/as agricultores/as familiares.