Por Alex Fabian Rabelo Teixeira (extensionista do Incaper)
Sempre gostei do contato com a natureza. Rio, mar, mato, roça, plantas, quintais, sapos, cobras, peixes, lagartixas, escorpiões, insetos. Tudo isso sempre me fascinou e alimentou minha imaginação. Entretanto, na natureza, nada me fascinou e fascina mais que o universo das abelhas. A riqueza de espécies, a diversidade de comportamentos e hábitos, a ecologia, a genética, a evolução, o papel ecológico, a organização, a economia, a criação agropecuária, o social.
Não sou nenhum estudioso, estudioso (aqui você tem que fazer um bico para falar o segundo estudioso). Mas o pouco que sei, e o muito que posso aprender e compartilhar sobre a natureza das abelhas, me fascina. E o meu motor propulsor motivador da minha vida profissional, atualmente, como extensionista do Instituto Capixaba de Pesquisa Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper).
E pensar que tudo começou quando estava terminando meu ensino fundamental, e por uma casualidade da vida tive acesso ao livro “Aprenda a criar abelhas”. Lia uma parte do livro e corria para o quintal da minha casa para observar as abelhas. Agora sabia o que elas faziam nas flores. As operárias coletavam pólen e néctar e transportavam o pólen nas pernas traseiras, em uma estrutura chamada de corbícula, e o néctar levava no papo. Transportavam para o ninho, onde eram recepcionadas pelas operárias nutrizes, que recebiam o néctar por um processo denominado trofalaxia, ou seja, regurgitavam o néctar para outra operária, a nutriz, que ingeria o néctar e passava por todo seu aparelho digestivo, recebendo várias enzimas que processavam os açúcares mais complexos do néctar em açúcares mais simples, mais digeríveis e menos susceptíveis a degradação por microrganismos patógenos. Esse néctar era, agora, regurgitado dentro dos alvéolos e desidratado pelos batimentos de asas das abelhas, até se “transformar” em mel, um alimento nobre e completo, com carboidratos, açúcares, vitaminas e minerais. O pólen era, também, armazenado nos alvéolos.
Sabia, também, da sua organização fantástica. As castas: uma rainha; mais que uma centena de zangões e milhares de operárias; a divisão de trabalho, de acordo com a idade: faxineiras, nutrizes e engenheiras. Tudo me fascinava! Por isso decidi fazer Técnico em Agropecuária, na então Escola Agrotécnica Federal de Catu (Bahia).
O desejo de saber mais cresceu. Entrei na Universidade Federal da Bahia para fazer Ciências Biológicas. Fui pedir estagio voluntário no Laboratório de Biologia e Ecologia de Abelhas (LABEA). A orientadora disse que o universo das abelhas não era apenas as abelhas africanizadas (Apis mellifera). Eu disse – “É!”. E era mesmo! De acordo com a literatura cientifica são mais de 30 mil espécies de abelhas e as possibilidades de estudos são imensas. Taxonomia, Biologia, Ecologia de Populações e Comunidades, Genética, Sistemática, Biologia da Polinização, Etnobiologia, Biologia Comportamental, Filogenética. Isso me assustou. Continuei. Conclui. Continuei de novo no Mestrado em Ecologia e Biomonitoramento. Conclui. Continuei aqui e até agora continuo.
Quanto mais estudo, mais encantado fico e mais respeito tenho às abelhas. As primeiras abelhas surgiram entre 146 e 76 milhões de anos atrás, no Cretáceo, em uma co-evolução com o surgimento das plantas com flores, as angiospermas. Vespas não tem estrutura para coletar e transportar o pólen. Já as abelhas, com raras exceções, para alimentar suas crias com proteína, coletam e transportam o pólen em estrutura própria a cada grupo de abelhas e mantém, assim, uma interação milenar com as angiospermas, sendo responsável pela polinização de diversas espécies vegetais nativas e cultivadas. Garantindo a formação de frutos e sementes; e, consequentemente, a manutenção de ecossistemas complexos.
Alguns grupos de abelhas são generalistas, outros especialistas. Das onze famílias de abelhas, seis ocorrem no Brasil. Apenas para exemplificar: nós temos as abelhas das orquídeas, onde os machos mantém uma interação especifica com as flores das orquídeas, visitando-as para coletar essências, utilizadas na atração das fêmeas para a reprodução. Com isso, são diretamente responsáveis pela polinização das orquídeas. Sem abelhas das orquídeas, sem orquídeas; sem orquídeas, sem abelhas das orquídeas. Temos, também, as abelhas carpinteiras, as famosas mangangás, que tem a capacidade de abrir, com suas mandíbulas, galerias em galhos e troncos de árvores e arbustos, construindo seus ninhos. São os agentes polinizadores efetivos do maracujá. Temos jataís, mandaçaias, uruçus, arapuás, mandaguaris, iraís, tubis e tataíras – alguns dos nomes populares das abelhas sociais nativas, sem ferrão, conhecidas no Brasil e que já eram manejadas pelas comunidades tradicionais brasileiras, indígenas e quilombolas, mantedoras do conhecimento etnobiológico de diversos aspectos dessas abelhas.
O meu trabalho de extensionista do INCAPER me fez entender mais o universo cientifico das abelhas. Tenho a grata oportunidade de me aproximar das pessoas interessadas nas abelhas, incluindo estudantes, profissionais, criadores de abelhas, agricultores e agricultoras familiares; e de fazer “interação rural”, compartilhando conhecimentos e saberes. Sem menosprezar o lado econômico imediato que as atividades agropecuárias de criações das abelhas representam, que seja na apicultura ou meliponicultura, percebo que existe algo além. Há um contentamento, um sentimento, uma paixão que as pessoas que criam abelhas têm e que traz uma satisfação que vai além do ganho capital, que não tem preço e que chega a ser um estilo de vida com mais respeito à natureza.
Assim, entender a biologia e as interações ecológicas das abelhas nos ecossistemas, nos ajuda a abrir a mente, o coração e o espírito para refletir que tudo no planeta está conectado e que ações ambientalmente irresponsáveis têm consequências negativas irreparáveis para toda humanidade.
Isso é o que me fascina nas abelhas. É por tudo isso que existe o Dia Mundial das Abelhas, para celebrar esses insetos magníficos e fascinantes.
Me apaixonei com a sua fala. Entrei no processo da organuzacao delas….fascinantes…e diferenciadas em seus polens nos tempos e flores…Imaginável. Voce nos tocou e nos chama á harmonia com todos os seres…
Obrigada Alex e vou repassar!
Parabéns pelo texto e dedicação a estas espécies, realmente são fascinantes. Feliz por tê-lo como colega, e pela forma como faz no atendimento às pessoas que o procuram em busca de conhecimento.
Lindo texto! Me surpreendeu um livro técnico influenciar alguém que na teoria não entenderia o texto. Me deixou estimulada a continuar doando publicações através da Biblioteca Rui Tendinha. ❤️