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17 de abril é Dia Nacional de Luta pela Reforma Agrária

Por 17 de abril de 2021Assuntos Gerais

Texto escrito por Leomar Waiandt, diretor de Política Agrária da FETAES.

Nesta data, dia 17 de abril, foi instituído no Brasil o dia Nacional de Luta pela Reforma Agrária. A data foi escolhida em homenagem aos trabalhadores e às trabalhadoras rurais, mortos/as em 17 de abril de 1996, no Massacre de Eldorado de Carajás, que ganhou repercussão internacional. Na ocasião, foram assassinados/as 19 trabalhadores e trabalhadoras rurais, centenas ficaram feridos/as e 69 mutilados/as. Na atualidade, a palavra que define este dia para o Movimento Sindical dos Trabalhadores e Trabalhadoras rurais é: RESISTÊNCIA!

A história sempre nos remete a reflexões, e nos faz entender o contexto de grandes feitos e lutas. Neste caso especifico: a luta pela reforma agrária no nosso país. Antes da chegada da Coroa Portuguesa ao Brasil já havia uma população estimada entre quatro e cinco milhões de pessoas, até então “não descobertas”. Após a chegada dos portugueses, as terras foram divididas em 15 grandes glebas para 12 donatários de confiança da Coroa. É assim que começa a concentração e a má divisão das terras brasileiras. Em 1850 foi criado a Lei da Terra, para reestruturar o sistema fundiário do Brasil. Em seguida, no ano de 1888, foi criada a Lei Áurea, para abolir a escravidão.

Mesmo com a Lei de Terras, a Lei Áurea e outras que decorrem sobre a questão fundiária do país, não foi resolvida a concentração de terras no Brasil. Com o passar do tempo a demanda aumentou, seja pelos escravizados que foram libertados e que almejavam um pedaço de terra para trabalhar, seja pelos povos indígenas ou por outros povos que colonizaram o Brasil. Assim, esses/as trabalhadores/as se unem e começam as reivindicações pela reforma agrária justa. E isso perpassa por algumas organizações até os dias de hoje.

Nesse contexto, a partir de 1945 surgem as Ligas Camponesas pelo Brasil, formada pelos/as assalariados/as rurais e os/as lavradores/as, e sua bandeira principal sempre foi a Reforma Agrária. Um pouco mais a frente, em 1954, foi criada a União dos Lavradores e Trabalhadores Agrícola do Brasil (ULTAB), responsável por muitas ações e greves importantes realizadas no país. Nesse processo de organização, a partir da existência da ULTAB foram instituídas as Associações de Lavradores e, a partir de então, foram sendo constituídos os Sindicatos de Trabalhadores Rurais com o objetivo de representação e melhorias para a categoria.

No entanto um fato grandioso aconteceu no ano de 1964, quando foi criada a Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais (CONTAG), que impunha como uma de suas principais bandeiras a Reforma Agrária, ampla, massiva e justa. Paralelo à criação da CONTAG foi instituído, em1964, o Estatuto da Terra, uma das legislações mais importante para a consolidação e organização da reforma agrária no país. Porém, fatores de repressão também aconteceram ao longo dessa trajetória. Logo após a criação da CONTAG explodiu no Brasil a Ditadura, onde aconteceram varias intervenções militares, principalmente nas organizações constituídas que lutavam em prol do povo sofrido. Nesse período, muitos líderes sindicais tombaram fazendo a luta pela terra.

A Reforma Agrária foi e é uma luta incansável e árdua. A partir da década de 80, os movimentos sociais, entre eles o Movimento Sindical de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (CONTAG, FETAES e Sindicatos filiados), conseguiram garantir a legalização de vários assentamentos pelo país, veja os números:

No Estado do Espírito Santo, a FETAES ao longo dos seus 53 anos de existência, sempre lutou por políticas estruturantes para o campo, como a luta pela terra. Na atualidade, coordena 30 (trinta) assentamentos de Reforma Agrária e está organizando sete (07) acampamentos que estão em processo de legalização.

Foto: Assentamento Geraldo Sperandio – Córrego da Ferrugem – Pancas ES

Para além da pauta agrária a FETAES reivindica direitos previdenciários e trabalhistas, moradia digna, crédito, assistência técnica, educação, saúde, estradas, transporte, cultura e lazer, entre outros direitos que proporcionam qualidade de vida e de trabalho no meio rural.

A partir das ações de massa, como Grito da Terra Brasil, Marcha das Margaridas, Plenárias da 3ª Idade e Festivais da Juventude Rural, garantimos conquistas importantes para os trabalhadores e as trabalhadoras rurais. Todas as ações têm como referência o Projeto Alternativo de Desenvolvimento Rural Sustentável e Solidário (PADRSS), o qual se constitui como uma alternativa ao modelo de produção hegemônico existente no Brasil, que é concentrador de terra, renda e indutor de desigualdades.

Porém, nos últimos anos, as políticas públicas têm sofrido fortes retrocessos em todas as áreas, e não seria diferente na Reforma Agrária. A partir de 2014 inicia-se o retrocesso das pautas sociais, com o retorno da direita ao poder na figura do então Presidente Temer, quando extingue o Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA), assim como outros importantes setores que contribuíam e ajudavam na organização da luta pela reforma agrária.

A situação se agrava em 2019, com a eleição do novo presidente do Brasil, Jair Messias Bolsonaro, que adotou uma política de Estado mínimo, e quando se refere à reforma agrária sempre é de forma contrária, com perseguições e ameaças. Os movimentos de luta pela terra não são ouvidos, com isso inúmeras famílias ficam a mercê de um sistema excludente e, por falta de oportunidades, são obrigadas a ficarem anos e anos aguardando a legalização do processo embaixo de lonas. Assim, a barraca com lona preta se torna um símbolo de luta pela Reforma Agrária.

Por fim, neste dia 17 de abril, a FETAES e seus 60 Sindicatos filiados reafirmam que, na conjuntura atual do nosso país, nada temos a comemorar. Mas na data de hoje fazemos um alerta, principalmente no contexto de pandemia pelo qual passa o nosso país, onde fica ainda mais evidente a necessidade de segurança alimentar para todos/as os/as brasileiros/as: a terra é garantia de alimentação!

A Reforma Agrária é uma política imprescindível para um país extremamente desigual como o Brasil. Então, fica aqui nosso apeloàs autoridades nas esferas constituídas (federal, estaduais e municipais): é preciso retomar a pauta pela Reforma Agrária como ação prioritária de inclusão social. Afinal, a terra precisa ser cuidada para que ela cumpra a sua função social como previsto na Constituição.

Infelizmente ainda somos um dos países com maior concentração fundiária no mundo.

REFORMA AGRÁRIA: NOSSA LUTA VALE A PENA!

Foto: Arquivo Contag

 

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  • A luta pela posse da terra e uma realidade que vivemos em nosso Brasil e em nosso Estado. Uma luta agraria que envolve mulheres, homens, jovens e crianças que acreditam que através do seu trabalho dia a dia na terra podem construir um novo amanhã e um futuro mais justo e solidário para todos e todas que vivem esta luta e que acreditam ser possível um outro momento na roça, mais justo mais igualitário e solidário. E esta luta se da a partir do conhecimento e das experiencias que estas famílias trazem a partir de sua história e de sua geração e que se ampliam pelo trabalho da Extensão Rural que juntos passam a ser protagonistas de um outra história, uma nova história.

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