No dia 12 de outubro celebra-se o Dia Nacional do Engenheiro Agrônomo. E a Assin optou por comemorar a data de uma forma diferente: entrevistamos o doutor em agroecologia e pesquisador do Incaper, Jacimar Luis de Souza, para falar um pouco da profissão, da importância do agrônomo e do pesquisador para a sociedade, e apontar alguns possíveis desafios no futuro.
A Assin parabeniza a todos e todas os/as engenheiro/as agrônomos/as do nosso Estado, em especial os/as servidores/as do Incaper. Nosso muito obrigado por tanta extensão e dedicação à agricultura capixaba.
Confira a entrevista.
Assin – Como o senhor avalia a importância do engenheiro agrônomo em nosso Estado?
Jacimar Luis de Souza – O primeiro aspecto que abordo é que é incontestável que o engenheiro agrônomo tem uma importância social muito grande, e acho que essa importância é reconhecida em nossa sociedade moderna. Mesmo nessa sociedade que hoje vive um consumo exagerado de informações, falsas e verdadeiras – e numa rede dinâmica em que os valores vêm e vão e que as pessoas perdem esses valores rapidamente. Eu vejo que o engenheiro agrônomo, esse profissional promotor do desenvolvimento tecnológico por trás da produção do alimento, tem esse reconhecimento.
É interessante que os profissionais entendam que esse reconhecimento está claro. A sociedade, de um modo geral, sabe que é alimentada em função dos trabalhos do agrônomo em todos os níveis, tanto na rede pública, que são os profissionais que atuam na assistência e extensão rural – função comum ao Incaper, em especial na parte da pesquisa agrícola e na geração de tecnologia – quanto no âmbito privado, a exemplo de agrônomos que também são empreendedores e empresários rurais, envolvidos com o agronegócio brasileiro. Todos têm sua importância.
A – E qual seria a importância dentro do Incaper?
J – Hoje em dia e cada via mais, é óbvio que o Incaper, com seus agrônomos, extensionistas e pesquisadores, vai acabar atuando num ramo em que a iniciativa privada não atua. No ramo mais responsável da agricultura, com produção de alimentos, com organização social, e que valoriza a propriedade familiar. Um ramo que se preocupa em manter a vida no campo, que cuide da sucessão da família rural, cada vez mais velha e que precisa ser renovada. Esse trabalho social, tanto na extensão quanto na pesquisa, dentro do Incaper, é onde o instituto e seus profissionais atuam cada vez mais e que é muito importante para a sociedade.
A – E dentro da pesquisa empresarial?
J – É óbvio que os profissionais que estão no Incaper também têm sua importância no âmbito da produção tecnológica para a agricultura empresarial, a exemplo da grande mudança do perfil da produção de café conilon no Estado. A realidade da produtividade da lavoura e da produção de sacas de café conilon no Espírito Santo, hoje, é que mais de 50% do aumento dessa produção se deve ao aumento da produtividade pela pesquisa agrícola.
A – A pesquisa é a força do Incaper?
J – Sobre a pesquisa, sabemos que nossa sociedade tem certo conhecimento. Mas acredito que possamos melhorar ainda mais. Por isso queremos buscar junto ao governo atual, do Casagrande, uma valorização a mais para a ciência e a pesquisa do Incaper, visto que nos anteriores houve um corte muito grande de recursos. Esses cortes não são exclusivos ao Incaper, porque todos os institutos de pesquisa agrícola, no país, têm passado dificuldades. Mas nós sabemos que nenhuma sociedade se desenvolve sem ciência. E no Espírito Santo, afirmo que 90% da ciência agrícola é feita pelo Incaper. Não há Embrapa, no Espírito Santo, e as universidades estão focadas em pesquisas básicas de mestrado e doutorado.
Pesquisa aplicada, que visa inovação tecnológica para o meio rural, é feito pelo Incaper. E tem reconhecimento nacional. Um exemplo é o nosso Programa de Agroecologia. É exemplo de produção tecnológica. Tem vários livros esparramados pelo país inteiro, e ainda com capacitação. A realidade da produção orgânica de alimentos no Brasil e no Espírito Santo se deve muito aos pesquisadores do Incaper.
Preciso afirmar que dentro dessa importância do engenheiro agrônomo, ainda mais no dia 12 de outubro, e mesmo com a sociedade reconhecendo tudo isso, é necessário explicar que a nossa estrutura de trabalho precisa de ajuda. Precisamos convencer os governos de que a estrutura de trabalho precisa ser melhorada, especialmente os centros de pesquisa do Incaper.
A – Há outros desafios, além de ampliar a estrutura e melhorar os recursos?
J – Nossos centros de pesquisa estão muito sucateados, tanto em material de estudo e análise quanto de trabalhadores. Os profissionais estão indo embora e não se contrata mais. Aqui no Centro Serrano, por exemplo, temos um laboratorista, quando precisaríamos de quatro a cinco. Na equipe de mão de obra rural já tivemos 15 profissionais, agora só temos cinco. Está difícil manter os campos experimentais. Não se investe na manutenção desses estudos. E a gente espera que esse governo retome a importância que o Incaper e os profissionais do Instituto merecem.
Afinal, só para a gente ter um exemplo, o aumento da produção de café conilon devido aos clones – uma das tecnologias desenvolvidas pelo Incaper e que mudou a realidade de produção no Estado – representa um ganho financeiro gigantesco aos cofres do Governo. Só o aumento de safra, promovido por essa tecnológica, dá em dinheiro para o Estado valor suficiente para quitar toda a folha de pagamento do Incaper no ano inteiro. Apenas uma tecnologia. O balanço social do Incaper é semelhante ao da Embrapa. A cada R$ 1 investido, o Incaper retorna cerca de R$ 14 para a sociedade e a economia capixaba.
A – Mesmo sem esse aporte financeiro, sem a estrutura necessária e sem o apoio do Governo, é possível enxergar o reconhecimento pelo trabalho desenvolvido?
J – Nem sempre a sociedade se dá conta de tudo que está por trás. Mas há outras formas de reconhecer o valor do profissional, a exemplo do material de conhecimento produzido pelos agrônomos e especialistas do Incaper. Muito do conteúdo resultante das pesquisas, livros, artigos, cartilhas, revistas, entre outros, servem como base de consulta, inclusive para escolas de nível médio e universidades. Esses profissionais são constantemente chamados a dar palestras dentro de universidades porque a academia não tem o conhecimento tecnológico que os especialistas do Incaper têm. Quando se faz esses eventos, busca-se no Incaper o especialista em café, citrus, agroecologia, por exemplo, e eles vão para dar cursos, palestras e capacitações, mesmo no meio acadêmico.
Outro exemplo é acompanhar o quanto que nossos profissionais são fontes para reportagens e matérias nacionais. No último mês, foram dois a três programas, em rede nacional, que vêm até nosso Estado para consultar nossos pesquisadores e fazer as matérias que passam para o país inteiro. Além disso, cada vez mais a pesquisa do Incaper leva inovação ao meio rural. Recentemente, a produção de cevada cervejeira virou nova atividade no Estado, rendeu artigo e duas matérias boas sobre o assunto, e cada vez mais há produtores interessados na cevada, visto o crescimento da produção de cerveja no Estado. É uma nova atividade econômica de cevada para malte, num mercado emergente. Essa importância de pesquisa, de inovação, muda o mercado rural.
Cada vez que essas informações e tecnologias são levadas ao campo, quando o agricultor planta, colhe e tira seu lucro, estão, por trás do que ele fez, os extensionistas do Incaper, que foram até a propriedade passar a informação técnica, e os pesquisadores, que geraram a tecnologia que está sendo levada ao campo. Um dos maiores orgulhos de poder trabalhar na instituição está, exatamente, na possibilidade de ver que todo esse material produzido pelos pesquisadores e todos os demais profissionais representa grande parte da inovação tecnológica da agricultura capixaba, e que todo esse conteúdo ainda serve de referência para as universidades daqui e do país inteiro.
A – E, para terminar, quais seriam os desafios para a pesquisa?
J – Existe um, em especial, que precisa ser revisto, urgentemente, em especial para os agrônomos que atuam no Incaper. Ao longo dos anos, fomos diminuindo demais o tempo de dedicação técnica do agrônomo. Se, antes, o profissional tinha todo o seu horário destinado para a sua atividade científica, hoje, os muitos processos do serviço público e das atividades reduzem o tempo do que seria a sua principal função. Toda a estrutura que existia antes e que permitia que o engenheiro agrônomo focasse exclusivamente na sua função fim foi se perdendo, com o passar dos anos.
Nossas entregas tecnológicas vêm diminuindo significativamente, assim como a produção técnica desses profissionais. E se continuarmos assim, a produção de conhecimento e de conteúdo, incluindo os avanços tecnológicos para a agricultura capixaba, vão acabar. E quem perde é a sociedade. Estamos sendo engolidos por processos que reduzem o tempo técnico do agrônomo, e para que o Incaper consiga se manter como uma empresa de ciência, tecnologia e de extensão rural, é necessário recuperar o tempo de trabalho técnico do agrônomo e do pesquisador, para que a produção deixe de ficar baixa.