Após analisar com profundidade a fala do senhor Cleber Guerra, em artigo publicado por A GAZETA, ponderou-se se era prudente pensar na Extensão Rural do futuro ou focar na Extensão Rural do presente. A resposta inevitável, com certeza, é a segunda opção.
Inúmeros são os fatos que fazem chegar a essa conclusão:
1 – O quadro ideal do Incaper, segundo a lei estadual, é de mais de 900 servidores; enquanto atualmente o instituto possui apenas algo em torno de 500 servidores;
2 – Segundo a avaliação do Extinto Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) – criminosamente extinto pelo governo Temer – o Espírito Santo necessitaria de aproximadamente 800 extensionistas de campo para atender aos agricultores familiares do estado. Considerando que seria uma divisão sensata atribuir ao Estado a tarefa de fornecer, através do Incaper, 40 % dessa força de trabalho. No caso, seriam necessários 320 profissionais. O Incaper possui, hoje, cerca de 130 profissionais de campo.
3 – Nos últimos anos o Incaper assistiu entre 10% e 20% dos agricultores familiares do ES. Isso mantendo uma produtividade considerada satisfatória dentro dos padrões recomendados pelo MDA (100 famílias por técnico). Vale a pena lembrar que o SENAR trabalha com um contingente inferior a 50 famílias por técnico.
4 – Mais de 80% dos agricultores familiares continuam desassistidos pelo Estado.
5 – O governador Casagrande defendeu, em sua campanha de 2018 e com muita ênfase, a recomposição da força de trabalho do Incaper e, até o momento, o Instituto só vem perdendo seus quadros. Nenhuma reposição foi feita.
6 – As perdas salariais não repostas, dos servidores, são superiores a 30% e têm desestruturado muitas famílias.
7 – Em estudo feito no município de Atílio Vivacqua constatou-se que o mesmo foi transformado de um enorme celeiro de alimentos em uma única grande pastagem. Essa transformação trouxe consigo efeitos nefastos: a) Uma enorme concentração de terra; b) Grande redução na produção de alimentos; c) A total eliminação dos empregos do campo (o agricultor, ao vender a terra, perde o emprego porque o café e o cacau são capazes de produzir um emprego para cada 3 hectares, a olericultura gera mais de um emprego por hectare e a pecuária de corte precisa mais de 50 hectares para gerar um emprego). A omissão do Estado foi fundamental para que se chegasse a essa situação catastrófica. Quantos “Atílios Vivacqua” não temos neste estado?
8 – Um estado que tem R$ 9 bilhões para investir não pode tirar R$ 30 milhões para fortalecer a Agricultura Familiar que garante 70% da comida na mesa dos capixabas?
9 – Parcerias com as prefeituras, com as escolas do MEPES e com as entidades dos agricultores familiares são fundamentais e já incentivadas desde 2005. Se não estão sendo feitas, hoje, é por negligência de quem tem a prerrogativa de gerir o Instituto.
10 – As parcerias que o Estado tem obrigação de fazer não o autorizam a se eximir da alocação de recursos para ampliar e melhorar os serviços destinados à agricultura familiar e nem de estar na coordenação dos serviços de Pesquisa Agrícola e de Assistência Técnica e Extensão Rural.
11 – Alguém irá dizer que esse é o canto do Cisne, porém é preciso afirmar que não é o cisne que está doente, mas sim é o lago que está secando. O que adianta o cisne sem o lago? Com tamanha omissão do estado o lago vai secar rapidamente. Quando se fala do lago se fala da agricultura familiar, que fornece 70% dos alimentos de nossa mesa e que gera a imensa maioria dos empregos do campo. Os latifúndios que estão sendo construídos acabam com os empregos e geram a fome.