Gostaria de tratar o Dia da Conservação do Solo para além daquilo que se entende de forma acadêmica. em seu sentido literal e acadêmico, e, aí sim, a partir da reflexão de cada um/uma, nos orientarmos na direção da valorização das relações e da vida.
A Terra, desde os seus primórdios, passa por fortes e importantes transformações em sua intricada rede de relações entre as pessoas e destas com o ambiente natural. Somos violentados/as por atitudes políticas e por uma sociedade que insiste em manter todas as formas de agressão possíveis a Terra. A pergunta que fica: o que nos restará enquanto sociedade e enquanto pessoas? Para onde vamos?
Sonhos, utopias, já nem existem mais. Parece que desapareceram ou, simplesmente, deixaram de existir. E sem estes a sociedade e as pessoas que dela fazem parte ficam sem o alicerce social e ambiental que nutre a vida e se torna refém do sistema econômico do lucro pelo lucro, onde tudo, inclusive a vida, passa a ter valor de mercadoria. Progresso, avanço, desenvolvimento ou a volta para um regime de exploração do ser humano, agora com a roupa nova do “virtuoso” século XXI, que vem se fortalecendo em valores de uma sociedade competitiva e muito pouco cooperativa e solidária.
O que vemos hoje é o predomínio da produção das atividades e do lucro e muito menos o valor e o sentido das pessoas e dos ambientes naturais, dos ecossistemas, das bacias hidrográficas, das nascentes dos córregos, dos rios e das comunidades, que formam a vida na Terra.
A exploração dos recursos naturais, com a adoção de práticas agrícolas desconectadas com o futuro da Terra, afastasse da forte coesão necessária para produção de vida na Terra com sustentabilidade. Estamos perdendo este encantamento. A sociedade precisa, de forma urgente, dar-se conta que, a continuar este processo garimpeiro, pode estar matando a si mesma, podendo chegar ao caos absoluto de não ser mais possível criarmos sociedades sustentáveis, com pensamento e fundamentação social e ambiental.
Parece que estamos nos afastando do Ser Supremo, que liga e reconecta o ser humano e permite a criação de fortes relações entre as pessoas, e optando por vivermos coletivamente desamparados e confinados em “nossas verdades”. Em nossa teimosia individual.
O Dia da Conservação do Solo, celebrado em 15 de abril, pode sim ser uma data importante para rompermos com este paradigma e podermos construir um novo, a partir do viver juntos/as um sonho para todos e todas, construindo um novo sentido de viver a vida, o ambiente natural, e, assim, promovendo uma imagem mais coerente com um futuro sustentável para Terra e para todos e todas que dela fazem parte.
A Carta da Terra reúne um conjunto de visões e princípios que podem reencantar a sociedade, pois sua centralidade é a vida, é a comunidade e as pessoas que pertencem a Terra, ao Planeta, e a esta humanidade em evolução continua.
Tudo que passamos na Terra tem uma forte interdependência, sejam os ambientes naturais, os ecossistemas e as formas de relações sociais e entre os seres vivos; sejam a natureza produtiva e econômica, os valores culturais e espirituais. Por tudo isso somos seres humanos que precisamos urgentemente nos transformar em seres menos excludentes e mais inclusos e protagonistas do atual momento que, segundo essa Carta, “ou formamos uma forte aliança para cuidar da Terra e uns dos outros ou então arriscaremos a nossa destruição e a devastação da diversidade da vida”.
O que precisamos é muito simples: precisamos cuidar da Terra. E para isso o seu uso tem que ser a partir de um comportamento mais respeitoso aos recursos naturais, em especial com o solo e as águas, pensando em nossa sustentabilidade e das demais gerações que estão chegando.
A ASSIN destaca que o futuro está em nossas mãos.
Texto escrito por Adolfo Brás Sunderhus, diretor de cultura e comunicação da ASSIN, engenheiro agrônomo, extensionista rural, aposentado do Incaper, e operário da terra. Aprende com o saber das famílias da roça, suas práticas e experiências. Escreve o que acredita e o que sente.