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Dia do Empreendedorismo Feminino: Mulheres buscam seu espaço no campo

Por 19 de novembro de 2020Assuntos Gerais

No dia 19 de novembro é celebrado o Empreendedorismo Feminino ,data instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) com o objetivo de incentivar e valorizar o empoderamento das mulheres. Mas ser empreendedora não tem relação apenas em abrir um negócio. É também uma atitude que busca melhorar o ambiente onde vive e de se superar a cada passo. E no campo existe um intenso trabalho para que as mulheres assumam seu lugar.

Alessandra Silva é médica veterinária e extensionista do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural, Incaper e trabalha com o empoderamento de mulheres no campo. “A partir do empreendedorismo, seja ele na implantação de agroindústrias ou de lavouras tradicionais (o que a mulher sonhar em empreender), a mulher terá um controle sobre a sua participação na geração de renda da família, aumentando seu poder de decisão e contribuindo para ampliar as relações mais igualitárias de gênero”, aponta Alessandra

Alessandra Silva, médica veterinária, extensionista e servidora do Incaper

Ainda segundo Alessandra, as mulheres rurais e da pesca sempre trabalharam muito na produção de alimentos para o sustento da família e para a geração de renda. Elas, geralmente, são as primeiras a se levantar de manhã para organizar a casa, preparar os alimentos e, então, seguirem para a lavoura ou para a pesca. Também costumam ser as últimas a dormir, pois chegam em casa e vão continuar seu trabalho doméstico que, muitas vezes são de sua responsabilidade exclusiva, ou dividido somente com as filhas mulheres. Porém, essa rotina de trabalho não é reconhecida pela sociedade por considerar com uma simples ajuda em casa, uma obrigação de esposa.

“O nosso trabalho de empoderamento feminino busca, justamente, contribuir para que as mulheres sejam reconhecidas como sujeitas de direito e capazes de decidir sobre a própria vida. Buscamos elevar a autoestima das mulheres, contribuir para que elas busquem se empoderar tanto economicamente quanto socialmente e politicamente, ocupando o espaço que sempre foi delas, mas que a sociedade sempre o limitou”, frisa Alessandra.

As mulheres estão nas lavouras; nas agroindústrias, fazendo a gestão do seu empreendimento; nas feiras, comercializando seus produtos e contribuindo com o desenvolvimento rural e a economia. Mas as vezes é necessário instrução e apoio, pois muitas não conhecem a sua própria força.

A economista doméstico do Incaper, e atualmente coordenadora do Escritório Local de Desenvolvimento Rural de Alegre, Aline Chaves Pereira, trabalha desde 2008 com o empoderamento feminino no campo, quando atuava na Secretaria Municipal de Agricultura, Pesca e Meio Ambiente da Prefeitura de Marataízes. Sua primeira atuação profissional foi com o grupo de mulheres pescadoras da comunidade do Pontal, que trabalhavam com a manutenção das redes utilizadas pela comunidade para a pesca de lagosta. Porém, em 2007, houve a proibição da pesca de lagosta com redes, e acabaram por perder sua principal fonte de renda.

Para que essas mulheres não ficassem sem o sustento e, ao mesmo tempo, pudessem se tornar protagonistas de suas histórias, foi elaborado um planejamento que resultou na conquista de uma cozinha comunitária através do projeto chamado “Sabores da Pesca”. Nesta cozinha as mulheres fabricavam e comercializavam seus salgados derivados de peixe, camarão e lagosta.

Aline Chaves, Coordenadora do ELDR

 

Projeto ” As Burguevilhas”, da comunidade Córrego Lambarzinho, em Alegre

Porém, a coordenadora lembra que o empreendedorismo feminino não se limita apenas a questão econômica. “A mulher, quando se torna empreendedora, ela passa a ser dona do seu próprio dinheiro, a ter mais autonomia e a ser dona da sua própria vida. Mas, ainda assim, ela enfrenta desafios e preconceitos, pois antes delas serem empreendedoras, são mães, esposas; e aí elas precisam se reinventar. A luta é diária”, pondera a coordenadora.

Projeto “Elas no Campo e na Pesca”

Primeiro Encontro de Mulheres Rurais de Alegre

 

 

 

 

 

 

 

 

Para a bióloga do Incaper, Marcia Vanacor, o papel das mulheres no campo é fundamental, pois geralmente são elas que cuidam das criações, horta, temperos e ervas medicinais, que são utilizadas na segurança alimentar e saúde da família. Além do preparo da alimentação. Muitas mulheres também assumem a gestão da comercialização dos produtos, divulgando listas de alimentos e preços para os consumidores. Porém, ela apresenta um questionamento: “A mulher toma conta de todo mundo, mas quem cuida dela?”, questiona Marcia.

Infelizmente, o campo também é marcado pela desigualdade social. A maior parte dos serviços de atendimento médico, jurídico e de segurança estão localizados nas cidades, o que dificulta o acesso a um/a médico/a ou mesmo à Delegacia de Proteção à Mulher, em casos de violência doméstica. O isolamento provocado pela pandemia da Covid-19 deixou as trabalhadoras do campo ainda mais desamparadas.

Marcia também é pesquisadora, com atuação na base da cadeia alimentar marinha, e tem convívio com as catadoras e limpadoras que preparam os pescados para a comercialização. Ela aponta que o universo da pesca e aquicultura é muito masculino. Mas as mulheres companheiras dos pescadores e aquicultores também contribuem com o trabalho. Elas são catadoras de ostras, sururus e siris, e são responsáveis por descochar moluscos, limpar siris e caranguejos e, também, os peixes.

Marcia Vanacor, bióloga e servidora do Incaper

Para ela, uma sociedade com mulheres empreendedoras só será alcançada mediante a transformação do nosso modo de viver. “Procuro valorizar os saberes culturais das comunidades de origem, que somados ao conhecimento acadêmico e científico nos dão respostas melhores ao desenvolvimento sustentável que almejamos. Lembrando que o desenvolvimento sustentável está ancorado no desenvolvimento socioeconômico e ambiental”, frisa Marcia.

Mulheres conquistam o campo, mas ainda há barreiras

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) o percentual de mulheres nos estabelecimentos agropecuários registrou um crescimento entre os anos de 2006 e 2017, passando de 12,7% para cerca de 19%. Atualmente, são 947 mil propriedades rurais comandados por mulheres. Além disso, outras 817 mil participam da direção do estabelecimento de forma compartilhada com o cônjuge. Apesar do crescimento, a desigualdade de gênero no campo é ainda muito presente: 81% das propriedade pertencem a homens.

Uma pesquisa feita pela Associação Brasileira do Agronegócio, com 301 mulheres, revelou o grau de dificuldade enfrentado por elas no campo. Entre as entrevistas, 43% relataram dificuldades para que as opiniões sejam tomadas em consideração pelos empregados e 41% citaram dificuldades para que as opiniões sejam tomadas em consideração pelos seus pares. Enquanto outras 28% apontaram dificuldades para poder se expressar livremente como mulher (na forma de vestir e de se comportar, por exemplo); 28% apontaram sensação de solidão por estar em um mundo de homens; 27% falaram de dificuldades para ter um relacionamento estável com parceiro/a; e 24% citaram dificuldades encontradas pelo fato de ser mulher.

Grupo de Mulheres Empreendedoras ” Sabores e Sonhos” da comunidade de Feliz Lembrança, em Alegre

 

A participação das mulheres é fundamental para o desenvolvimento rural, em especial no apoio ao empoderamento feminino, por meio de abertura de negócios, profissionalização ou iniciativa para mudar o ambiente em que vive. A construção desse futuro conta com o apoio de outras mulheres que obtiveram espaço e destaque na sociedade como Aline Chaves, Alessandra Silva e Márcia Vanacor.

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