Pra ser bem sincera, nem sei se o título “A história de minha vida, considerando meu acesso aos veículos de comunicação” seria o título ideal. Pode ser que o mude enquanto conto a história.
Semana passada eu me deparei com a seguinte situação: eu marquei, no intervalo de 5 horas, seis compromissos relacionados à saúde (fisioterapia, três exames, uma consulta e pilates) em três locais diferentes (pelo menos com 6kms de distância entre eles) e, mesmo assim, já preparada para fazer exames cardíacos, eu continuava atendendo ligações e respondendo mensagens de WhatsApp. Ao refletir sobre essa insanidade, percebi que precisava repensar minhas ações.
Quem me conhece sabe que eu falo! Falo sobre quase tudo que compõe meu mundo. Até eu mesma fico admirada com a capacidade que eu tenho de falar tanto. (Risos). Depois de 51 anos de idade e mais de 32 anos de atuação profissional em diversas áreas da administração do Incaper, convivendo de forma muito interativa com os colegas da área técnica, eu me permito ter e emitir opinião sobre quase tudo. Mas, como eu cheguei até aqui?
No início de minha vidinha, lá no interior do interior do Estado, minha convivência era restrita a minha família e aos moradores de uma pequena comunidade. Eu era mais nova e sempre muito pra frente. e não me lembro de ter muitas amigas íntimas, além da minha prima Luziany. A gente não tinha energia em casa, não tinha rádio (meu pai até comprou um, mas meu irmão Ilto desmontou e não conseguiu remontar, e também eram oito pilhas grandes. Quem aguentaria manter?). E TV só em 1984, quando eu já estava no segundo grau (e, nesse momento, eu estudava de manhã e a noite, então não tinha tempo pra TV – e, quando via, eram programas de esportes que meu pai e irmãos viam). Dá pra imaginar que não tinha muito acesso a informações do mundo fora dessa bolha, não é?
Mas eu sempre gostei de ler e a leitura me transportou para outros países, outras vidas, outros mundos. Então, lia de tudo que aparecia na frente. Li o livro A Moreninha, que meu irmão mais velho José levou lá para nossa casa, na roça, incontáveis vezes. E, em algum momento, descobri, já no “segundo grau”, com minha amiga Rosângela, a Biblioteca Municipal e as obras de Jorge Amado e Érico Veríssimo. A gente era muito competitiva no sentido “saudável” de querer ler toda a obra desses autores. A gente lia Julia, Sabrina, Bianca e outros romances dessa leva também. Antes que digam que esse tipo de leitura não conta, saibam que meus conhecimentos de geografia, especialmente italiana e grega, foram ampliados com esses livros. A convivência com essa amiga e sua família me mostrou mais possibilidades, e eu, mesmo sem ter feito grandes análises quanto à minha vocação, fiz faculdade.
Mas a transição entre estudo e trabalho acabou e restou a “pessoa jurídica” Aparecida, que foi da “Aparecida da AFE”, “Aparecida da Diretoria”, “Aparecida das Compras”, “Aparecida do DAD”, “Aparecida dos Convênios”, e cá estou eu na maca da clínica respondendo mensagens.
Nessa vida profissional tudo que desejei em termos de comunicação alcancei e, digamos, tive em “overdose”. Nos tempos da Fazenda Experimental Bananal do Norte, eu que achava lindo receber correspondência por malotes, fui trabalhar na “área de recursos humanos” e recebia um tanto delas, o que só aumentou quando fui pra área de compras na Sede. Em Bananal, ligação telefônica era luxo, nem sempre possível, mas eu vim pra Sede e, especialmente na área de compras, eram três linhas para fazer e receber chamadas, além de passar/receber fax com solicitação de coleta de preços. Não, não tínhamos o uso do e-mail permitido para processos de compras nessa época. Era o bom e velho fax-símile.
Conseguimos passar a enviar as coletas por e-mail e parte da comunicação passou a ser eletrônica. Aí dava para, ao mesmo tempo, falar ao telefone, mandar e-mail, mandar mensagens via Messenger (outro que só antigos vão lembrar) e pelo Skype. Imagina que conquista fazer tudo isso ao mesmo tempo? Eu, enfim, estava integrada a comunicação em larga escala.
Vixe… Nesse ponto me lembrei que, antes do fax, eu já havia sido usuária do telex, na Fazenda Experimental de Mandes da Fonseca. Quem conhecer o dito, pense na dificuldade de transmitir textos longos, via telex, numa região de muita instabilidade na linha de transmissão, aliada a nenhuma habilidade de digitação.
Os computadores chegaram quando eu estava na FEBN, ainda. E depois de eu gravar os comandos do Word Star (> C, >B, >N….) chegou o mouse, e aí eu tive certeza de que nunca mais usaria um computador, por quem eu já estava irremediavelmente rendida: eu não tinha (tenho) coordenação motora. Mas eu venci esse obstáculo e, hoje, estou com problemas nos ombros, cotovelo, punho e dedos de tanto usar teclado e mouse.
Uma das maiores mudanças, se não a maior – para os “acelerados de plantão” – foi o advento do WhatsApp. E aí, a capacidade de troca de mensagens aumentou exponencialmente e, com ela, a queda do limite de horário de expediente. Não importa se seu celular é institucional ou privado: você está ao alcance de um “enter” a qualquer dia, mesmo que você não exerça qualquer cargo de maior destaque. A gente manda mensagem pra gente mesmo pra não esquecer; a gente manda mensagens para terceiros, dizendo que não precisa responder imediatamente, que só mandou pra não correr o risco de esquecer. Isso sem falar nas “nuvens” onde a gente pode editar arquivos de forma simultânea com quantas pessoas desejarmos.
Olhando de fora, parece pouco assustador. Mas veio a pandemia e com ela o home oficce, e aí foram totalmente ultrapassados os limites da sanidade. Praticamente toda comunicação presencial passou a ser por telefone, web conferências em múltiplas plataformas. E, agora, se você é como eu, demorar três minutos para responder uma mensagem ou aguardar resposta por esse tempo se transformou em uma eternidade. E é incontável a quantidade de mensagens simultâneas que a gente pode receber.
Nesse contexto é que o estresse – e o sobressalto constante pelo medo de ser infectada e de infectar terceiros (pela Covid-19) – é que me vejo fazendo checkup de coração, e com um neurologista que deu um diagnóstico imediato: precisamos controlar sua ansiedade para, depois disso, investigar eventuais causas para sua dor de cabeça, que consegue alternar cada centímetro. Em paralelo, um diagnóstico inconclusivo de Covid assintomático, que me nocauteou. E enquanto eu chorava copiosamente com medo de transmitir o vírus – e era consolada pela médica, que me disse: “você não está vendendo drogas, você está doente e não tem culpa” – eu me via como parte de estatística em posts de rede social e outras comunicações.
A quem interessar, os remédios para controle da ansiedade estão começando a fazer efeito. Os exames do coração deram todos regulares. Acho que estou pronta para o próximo tempo de jogo. Não! Não estou. Precisamos cuidar da nossa sanidade mental com muito carinho. Precisamos ser responsáveis conosco e respeitar limites para não comprometer nossa saúde. Porque somos os únicos responsáveis por ela, e os danos a ela causados recairão sobre nós e nossos familiares.
Texto de Aparecida L. Nascimento. Equipe CPEADM – Coordenação de Projetos Especiais Administrativos. Coordenadora Editorial do Incaper. M.Sc. Administração.
Uuuuuffffaaaa!!!!!
Você simplesmente é fantástica.
Embora já conhecesse esse seu lado eletrica, só não sabia em que velocidade.
Bjão no seu Coração
Aliás, cuide bem dele
Que texto bacana Cida!
E assim vamos vivendo, cada um com sua loucura nessa vida chamada moderna!!!! Ainda bem que a chácara Denguinho está ficando pronta!!
Boa noite!
Aparecida, parabéns pela belíssima história de vida! Você é uma pessoa prestativa, competente e vencedora. Tive o privilégio de trabalhar com você na antiga EEBN/Emcapa.
Um abraço e que Deus a abençoe e ilumine os seus caminhos.