*Diretoria Executiva da ASSIN
A realidade no Brasil mostra um profundo abismo entre as classes sociais. Esta mesma realidade se apresenta no que diz respeito à inclusão e ao acesso digital. A ATER Digital, além de sua natureza excludente, também é uma tecnologia cara. E tecnologias caras são excludentes aos agricultores familiares. No entanto, quando geradas dentro de sua lógica de entendimento e prática discutidas, abre-se a oportunidade de espaços que podem ser ocupados se apoiados por políticas públicas que potencializam a participação de agricultores/as familiares.
O modelo ATER Digital, apresentado pela ministra Tereza Cristina, remonta a época da Revolução Verde, com uma fala que revela o seu completo desconhecimento sobre o tema, mas ou menos assim: “eu vi, me falaram que era bom para nós e eu trouxe, e aqui esta, e vai ser aplicado desta forma”. Não quero dizer que não houve discussão. Mas com quem? O que se questiona é com quem foi discutido e com uso de qual metodologia. De que forma se oportunizou o pensar contraditório?
Esses questionamentos são necessários dado a realidade com que este “governo” dialoga com a sociedade – que está longe de ser participativo – e em respeito às organizações sociais e de representação da ATER e da Agricultura Familiar.
Qual a capacidade da ATER Digital? Ao que “está dito”, o seu foco será no empoderamento tecnológico e de produção, rentabilidade e lucro. Terá esta ATER Digital a capacidade de oportunizar pensamentos construídos a partir da realidade local e territorial da agricultura familiar em seu aspecto social, de saber e conhecimento?
Será que esta ATER Digital realmente está comprometida com a mudança estrutural social e econômica da unidade familiar de produção? Ou simplesmente será mais uma proposta de avanço tecnológico de uma agricultura de precisão? Ao que me parece, a proposta está falando não da e para a agricultura familiar e, sim, para aquela do agronegócio, exportador e de commodities.
A Extensão Rural, em sua presença física, dialoga diretamente com o/a agricultor/a familiar, com seus filhos e suas filhas, com os/as trabalhadores/as rurais, com os/as meeiros/as e parceiros/as. Dialoga com os povos da terra da floresta e das águas. Dialoga e interage com respeito aos saberes e aos conhecimentos destes/as. E a ATER Digital, dialoga com quem? Será o mesmo público que foi da revolução verde: o patrão, o dono da terra? Estamos diante de um novo relacionamento ou diante do velho relacionamento?
A Extensão Rural em sua ação direta com a agricultura familiar busca e trabalha com a valorização do conhecimento através da interação de saberes do/a agricultor/a e do saber cientifico, interpretados e valorizados como fatores que promovem autossuficiência e sustentabilidade. E enquanto política pública diminui as desigualdades sociais produtivas, econômicas e de mercado. Sua ação está centrada diretamente com as pessoas e não diretamente em produtos.
Por isso a ASSIN firma sua fala contra mais esta violência do governo federal contra a Extensão Rural e contra todos/as os/as servidores/as públicos/as de ATER, entendendo que desta forma estamos construindo e fortalecendo uma reflexão propositiva de luta por uma ATER comprometida com o desenvolvimento sustentável em sua ação coletiva, em novas formas de gestão e produção, de organização de mercados e do controle social das políticas públicas.
Parabéns ASSIN pelo posicionamento correto e preciso.
A quem interessa a ATER digital? Quais os interesses que estão por trás de mais esse golpe na Agricultura Familiar? Seriam os mesmos que ajudaram a colocar os “médios agricultores” como beneficiários da ANATER?
ATER digital para quem não tem internet ou serão atendimentos pontuais vias WhatsApp? Mais uma piada desse desgoverno.