Estamos vivendo o atual momento, COVID-19, dentro de uma forte reclusão e isolamento social e, ao mesmo, tempo estamos tendo a oportunidade de refletir sobre ações e comportamentos de cada um. Arrisco uma reflexão, um palpite como se diz na gíria, que nunca, pessoas, organizações sociais, corporativas e econômicas, governos ou lideranças, experimentaram tanta pressão e mudanças.
Apesar de tudo que estamos vivendo no mundo, muitos ainda não entendem o porquê devem mudar, e o que deve ser mudado. Muitos ainda são prisioneiros do processo evolutivo da sociedade, que nos levou a um intenso quadro de individualismo, onde vale a máxima de primeiro eu depois, se for possível, os demais. E neste sentido continua muito forte a confusão na cabeça das pessoas, que talvez não consigam compreender a necessidade da mudança em beneficio próprio e da coletividade.
Todos e todas, sem distinção ou privilégio, estamos experimentando uma transformação global, que não pertence a esta ou àquela época, nem a qualquer segmento, seja social, econômico, político ou ambiental. Esta modificação no modo de viver esta para além, muito além da revolução industrial, tecnológica, econômica e sociocultural. O mundo esta quebrando paradigmas ao mesmo tempo em que constrói ou fortalece outros, como a importância da ciência e dos valores humanos. Estamos, sim, aparentemente isolados, mas vivendo uma nova coletividade, construindo – não diria um novo mundo, mas arrisco dizer – uma forma de viver e de se relacionar qualitativa e quantitativamente diferente de tudo até agora experimentado por esta sociedade que criamos, e quero acreditar que será significamente melhor. Todos e todas estamos vivendo diferentes níveis de vulnerabilidade que se impõe aos cidadãos, às organizações sociais, comunidades da roça e da cidade e aos governos (sejam estes de que ideologia forem).
Estamos fortemente fragmentados em nossa percepção e formas de análise e interpretação do momento atual. Ainda perplexos diante dos diferentes modos de intervenção, onde ainda vemos que, apesar de todas as vidas que caem diante de nossos olhos, dia a dia, alguns se agarraram a falsa legitimidade das velhas regras que acompanha o velho jogo social e político dos interesses individuais, problema este que está na sociedade, nas organizações, no sistema político e nos governos eleitos por esta mesma sociedade.
Está na hora de vencermos a nossa perplexidade diante dos fatos e pararmos de nos refugiar em perguntas do tipo: o que fazer? O preço que estamos pagando exige parar de sermos reféns de propostas instrumentais e de interesses que não sejam aqueles coletivos, normalmente descritos com denominações distantes do entendimento popular, como planejamento estratégico, qualidade total e a tal da reengenharia.
As mudanças necessárias devem buscar sustentabilidade; ou seja, é hora de construir um novo comportamento a partir de uma visão de mundo inspiradora e voltada para a coletividade, onde a importância do “nós” seja maior que a do “eu”, através de novos modos de interpretação e de intervenção.
SUNDERHUS, Adolfo Brás.
(Engenheiro agrônomo. Operário da terra. Aprendendo com o saber das famílias da roça, suas práticas e experiências. Escrevo o que acredito e o que sinto.)