Usar calça, botas, camisas de manga comprida, chapéu de aba larga. Isso parece muito elegante e realmente o é, quando tem objetivo de se vestir buscando se agasalhar do frio intenso ou ir a um evento que assim define o seu vestir. E quando é preciso usar todo este aparato num calor de dezembro a março, dia a dia no trabalho diário de campo, lá na roça? Esta é a realidade do agricultor e de sua família no trabalho diário de capinar, plantar e colher os frutos que vêm da sua roça. Este sol a sol, neste período, também é a realidade do servidor e servidora de campo do Incaper, que está submetido a esta obrigação legal por seu regime de trabalho. Ao poder e ao gestor público fica a obrigação de atender ao que define a legislação neste caso, tão perto do olhar dos gestores mas longe de ações efetivas para sua solução. Este descaso a que estão submetidos estes servidores/as chega a ser um contrassenso quando vemos o reconhecimento e a referência nacional do Instituto em ações de Pesquisa Assistência Técnica e Extensão Rural. Não podemos continuar com o sentimento daquele ditado popular que diz: “casa de ferreiro, espeto de pau”.
A necessidade do uso de equipamentos de proteção não é por acaso, ou por insistência da ASSIN, que nesse caso é tratada como mais uma voz que busca somente a contextação das falhas cometidas pelo Estado, no caso o INCAPER.
Vejamos se esta manifestação da ASSIN não se faz necessária diante do quadro. O aumento na descoberta de novos casos de câncer de pele (segundo estudos do Instituto do Câncer – INCA), nos indica a previsão de que 163 mil novos casos da doença sejam diagnosticados no Brasil no biênio 2014/2015. Esperamos que nenhum acometa nossos servidores/as, mas pode acontecer sim, pois todos estamos sujeitos e sem a devida proteção e cuidados, muito mais.
Estes dados vêm mudando o comportamento dos trabalhadores/as que realizam suas atividades expostos ao sol. O que se espera é que a mesma mudança de comportamento, de forma ágil, seja efetivamente exercida pelo governo do Estado e pelos gestores do INCAPER, que têm em seus quadros funcionais trabalhadores e trabalhadoras expostos diariamente a esta situação de risco.
Na roça cada vez mais vamos ver agricultores e agricultoras vestindo camisa de manga longa, bonés que cobrem pescoço e orelhas, e sobretudo o uso do filtro solar de qualidade e com recomendação por profissional qualificado, sem falar dos EPI – equipamentos de proteção individual. Em nossas fazendas experimentais do INCAPER esta necessidade não é diferente daquela vivida pelo agricultor. O Dr. Leonardo Melo Ferreira, em matéria veiculada na revista Procampo, nº 52, de outubro/novembro-2014, pagínas 10-13, nos lembra “que o uso do filtro solar deve ser feito até mesmo em dias nublados, em que o sol não aparece, e faz um alerta: o protetor solar deve ser aplicado pela manhã e reaplicado a cada duas horas, ou até mesmo antes caso o suor seja intenso, o que quase sempre ocorre”. Destaca ainda que os “mais indicados são os com fatores de proteção de no mínimo 30, com proteção UVA.”
Com a chegada do verão, quando temos noites mais curtas com dias maiores, o que faz com que o produtor passe mais tempo na roça, os cuidados devem ser redobrados. Esta mesma regra se aplica aos servidores e servidoras do INCAPER que se encontram nesta situação. Normalmente não nos preocupamos com o sol. E tem sempre a fala: “comigo não vai acontecer, sempre trabalhei assim.” Em acontecendo, o tratamento é longo, demorado e incômodo, diz o agricultor Josephino Bonfante, de 83 anos, da comunidade rural de São Bento, no Município de Rio Bananal, nesta mesma matéria da Revista Procampo.
Apesar de todos os números que nos assustam e nos colocam em alerta sobre a doença, o Dr. Leonardo diz que o câncer de pele é fácil de ser previnido e também muito fácil de ser percebido e orienta que “os trabalhadores expostos ao sol diariamente pelo seu trabalho, em especial os de pele clara, devem ficar mais atentos ao surgimento de novas pintas, caroços e pequenos ferimentos que não saram, principalmente em áreas expostas ao sol”. Nesses casos é importante procurar imediatamente um médico dermatologista para um exame completo de pele o quanto antes.
Como vemos, não é complexo ao poder público tomar as medidas necessárias e seguir as normativas de segurança e medicina do trabalho. A prevenção é a prática mais eficiente para evitarmos um futuro indesejável para a família do servidor público e para o próprio Estado. A matéria citada nos traz a seguinte recomendação, segundo o médico: “evitar se expor ao sol das 10 às 16 horas, especialmente em dias de sol forte, quando possível, dependendo de sua atividade, utilizar chapéus de aba larga, camisas de manga longa e calças compridas. E na roça é bom lembrar que nunca devemos trabalhar sem botas, e de acordo com o trabalho, caneleiras e protetores de olhos.
No entendimento que as fazendas experimentais são a “roça do INCAPER”, o Estado precisa pairar um olhar com maior comprometimento e responsabilidade, em especial neste caso, ou seja um olhar mais humano. Precisamos pensar e agir todos juntos. Precisamos ter cuidado com o que fazemos hoje, pois interfere no futuro de muitas vidas, hoje e amanhã!
Autor: Adolfo Bras Sunderhus, presidente da Assin
Essa reflexão é muito importante para que atitudes concretas sejam adotadas diante de um cenário trágico, mas óbvio. E a consciência deve vir do Estado sim, mas também do próprio servidor cidadão, que é o verdadeiro prejudicado nessa história.