As fabulas nos retratam de uma forma bem pitoresca, fatos que podem ser fazer presentes no nosso dia a dia. A do Cordeiro e do Lobo, de Jean de La Fontaine, que todos se lembram da nossa infância, foi a escolhida para esta reflexão.
Diz a fábula que um cordeiro estava a tomar água, matando sua sede a beira de um riacho, quando surgiu um lobo, faminto, procurando o que devorar. Vendo o cordeiro, imediatamente gritou de forma irritada e provocadora: como ousas sujar a água que vou beber! Em que o cordeiro diante do poder de tal fala, em sua humildade pede perdão, mas ao mesmo tempo diz que a água vem descendo o riacho e eu só bebo aqui, mais abaixo de onde estas e, desta forma, não poderei sujá-la. E o lobo em sua busca por manter o seu lugar de poder no mundo que se desenha. afirma: suja sim, além disso, também sei que durante o último ano tem falado mal de mim. O cordeiro mais uma vez diz ser impossível, pois tem apenas poucos meses de vida. Já o lobo, buscando exercer sua autoridade e soberania afirma: se não foi você, foi seu irmão, seu pai, sua geração que tem me incomodado e não me poupam. E num ato de vingança atira-se com toda sua força sobre o cordeiro indefeso, ferindo-o de morte, prevalecendo assim o poder da lei do mais forte.
Esta fábula traz para todos nós a reflexão sobre aqueles que oprimem, usando todo o seu poder sobre os inocentes e sobre os mais fracos, através de falsos pretextos e argumentos, predominando sempre a razão e a intolerância dos mais fortes.
Será que podemos trazer a mensagem desta fábula para os dias de hoje, nas relações sociais e políticas entre governo e servidores públicos? Então veremos. A determinação de força e soberania usada pelos governos o revela como o lobo e os servidores públicos como os cordeiros. O governo, como lobo, vai aniquilando o processo de participação dos cordeiros no ato de “beber a água”, pois a água não pode estar suja ou faltar para os interesses de uma minoria que lucra política e economicamente na sociedade, e desta forma não cabe pensar duas vezes, é do cordeiro que se deve tomar.
A fábula nos é de grande auxílio para nossas reflexões quando pretendemos colocar em discussão a realidade da conduta do governo e dos governantes, resgatando uma visão mais crítica em relação a sua gestão sobre os servidores públicos. Fazer esta análise é conhecer o conteúdo da fábula, nos permite exercer nossa cidadania para buscar resolver as questões de valores que norteiam as ações e o comportamento do governo, quando sua ação política e de poder se sobrepõe a sua gestão democrática, o que leva a perda de eficiência social, econômica, produtiva e das relações com os servidores públicos.
Agir desta forma e tratar com diferença os seres humanos, com necessidades diferentes diante das possibilidades diferentes, agindo com dois pesos e duas medidas, que cabe um grupo de determinadas normas morais a certo grupo social e, para os outros grupos sociais, caberiam outro conjunto de normas morais, definidos de acordo com as conveniências.
Esta lenda adverte que, com atitudes desta natureza, é preciso tomar cuidado com a maldade que nela esta escondida, e também nos chama atenção que toda maldade carrega sua pena.
Adolfo Brás Sunderhus