Esta categoria profissional é formada por homens e mulheres que convivem com valores, saberes e políticas públicas ao longo do tempo e que, no século XXI, ainda mantêm acesa uma chama importante, sempre alimentada pela posição guerreira, que sobrevive mais por convicção do que por qualquer outro incentivo que receba dos poderes públicos: estar lado a lado dos agricultores familiares.
As políticas públicas têm em sua essência a proposta de investir e promover mudanças de natureza social produtiva, econômica e ambiental. O que o governo do Estado do Espírito Santo precisa assumir, de fato, é que a Extensão Rural é um elemento fundamental para o desenvolvimento do meio rural. Logo, o extensionista é um ator importantíssimo. E nos atrevemos a fazer essa afirmação, pois existem estudos suficientes que apontam que a extensão rural é a ferramenta vital para construção das chamadas alternativas que possam promover a inclusão social, produtiva e econômica das centenas de milhares de famílias do interior.
É preciso vencer o paradigma, imposto por políticas públicas com foco produtivista e de lucro, de que a agricultura familiar é o patinho feio. Hoje o discurso político já traz este viés; falta, no entanto, que a prática desta fala se retrate em ações estruturantes de natureza social, de geração de uma matriz tecnológica mais humana e com respeito à produção de alimentos integrada aos conceitos e bases da segurança alimentar e nutricional, ao respeito e ao saber do agricultor e agricultora familiar e camponesa e das comunidades tradicionais.
Em tese, é preciso que o governo, e, sobretudo, sua política de valorização profissional, passe a enxergar a agricultura familiar e os profissionais que a ela se dedicam como protagonistas dessa história e não, de novo, como “patinhos feios”, pois são os agricultores e agricultoras familiares e camponeses, acompanhados em sua grande maioria pelos Extensionistas Rurais, que continuam sendo os responsáveis por mais de 70% da produção de alimentos que chegam à mesa da sociedade capixaba, seja da classe mais pobre ou da mais rica.
Queremos sim comemorar o Dia do Extensionista Rural – 06 de dezembro, que tem por objetivo reconhecer o valor desses profissionais que atuam diariamente ao lado do agricultor, ajudando-o na construção de um mundo rural social e economicamente produtivo e sustentável. Esses profissionais são engenheiros agrônomos, médicos veterinários, técnicos agrícolas, zootecnistas, biólogos, economistas domésticas, engenheiros de alimentos, assistentes sociais, jornalistas, economistas, cientistas sociais, administradores, pesquisadores, entre outros. São essas pessoas que, de maneira informal, proporcionam educação no meio rural através de processos de organização social, gestão, produção e comercialização, tendo como foco a agricultura familiar e camponesa. Somam-se ainda as seguintes características básicas de um Extensionista Rural: iniciativa, facilidade de relacionamento e articulação, facilidade de comunicação e expressão, capacidade de coordenar trabalhos em grupo, dinamismo, persistência, determinação, objetividade, entusiasmo e, sobretudo, gosto para colocar em prática todas essas habilidades junto aos agricultores e agricultoras familiares e camponesas. Ou seja, o extensionista rural não se faz nos bancos das escolas; são profissionais que se fazem na lida diária e no contato com a realidade e a dinâmica do seu trabalho.
Por isso, ousamos afirmar, mais uma vez, que o extensionista rural é um guerreiro sobrevivendo mais por convicação do que por qualquer outro incentivo que receba dos poderes públicos. É preciso que o poder executivo e o poder legislativo transformem seu discurso e seus projetos de lei em práticas que enxerguem o Extensionista Rural como o elemento de real importância para viabilização das políticas públicas para agricultura capixaba, vencendo o discurso atrasado e colonial de que “aqui em se plantando, tudo dá”. É preciso enxergar este grupo de profissionais como o agente fundamental e capaz de realizar uma verdadeira revolução no mundo rural, pois o tão discursado desenvolvimento rural sustentável nada mais é do que um processo de revolução social, produtivo, econômico, ambiental e político, e as políticas públicas são estes instrumentos revolucionários de aproximação e de presença do governo com a sociedade.
Temos algumas convicções que ousamos, por nossa natureza, aqui expressar:
1-O desenvolvimento não se faz pelas instituições públicas e nem pelos programas de governo, mas sim pelas pessoas, pelos servidores públicos e por aquelas que recebem esses serviços e, no caso do desenvolvimento rural sustentável, pelos Extensionistas Rurais e pelos Agricultores Familiares;
2-Neste século, chamado de novo tempo, a extensão rural e o extensionista passam a ser o provocador e o auxiliar às mudanças sonhadas e desejadas pelos cidadãos que vivem no meio rural e para as utopias também desejadas pelos do meio urbano.
Nesse contexto, cabe ao Extensionista o papel de ser o agente deste desenvolvimento, incorporando no seu dia a dia os interesses dos agricultores, de suas famílias e de suas organizações e, por outro lado, colocando-os acima dos interesses da instituição da qual faz parte, e daqueles dos seus dirigentes.
Falta-nos aquele governante capaz de plantar e implantar os mesmos valores de justiça social econômica e de qualidade de vida a cada homem e mulher que assumem esta responsabilidade, enxergando e valorizando o Extensionista Rural do serviço público do Estado, com políticas públicas para sua formação continuada e com políticas de remuneração dignas e justas e em igualdade com a importância e a grandeza de seus serviços para sociedade, rural e urbana, e não para este ou aquele governo.
Autor: Adolfo Brás Sunderhus, presidente da Associação dos Servidores do Incaper (ASSIN)