Por Adolfo Brás Sunderhus
Construir na roça o espaço social e produtivo em harmonia com o meio ambiente para além do lucro é, sem dúvida, um dos grandes, talvez o maior, dos desafios deste século. Para isto e necessário que os investimentos e as políticas públicas também tenham esta visão e objetivo, ou seja, precisam se comunicar com a sociedade e suas necessidades, no entendimento de que “o que importa é alimentar gente, educar gente, empregar gente. História é gente. E descobrir e reinventar gente é a grande obra da cultura (Betinho)”.
Este novo ambiente, chamado por alguns de capital social, deve ter por base o desenvolvimento humano expresso pela sua natureza de melhorar a vida das pessoas. Nesse contexto devem estar presentes os conceitos de desenvolvimento sustentável que nada mais é do que melhorar a vida das pessoas de hoje e do futuro. Esta relação íntima e permanente entre moradores da roça e da cidade necessita, para o seu desenvolvimento, ter o entendimento e a aceitação cultural dos gestores públicos.
Gosto de definir a agricultura como uma rica experimentação que envolve pessoas e o ambiente de forma natural, cujas relações acompanham o ciclo da natureza. Existe, na agricultura, uma sequência lógica e natural que obedece a regras e a princípios próprios expressos, como o nascer de uma semente que vem após o florescer; ou o brotar da planta à colheita de seus frutos. Temos um período de amadurecimento que no final se transforma em uma rica produção para a alimentação sadia e segura das famílias e mercados consumidores.
Impor a este sistema natural um processo de produção com base no crescimento econômico a qualquer custo, como aquele adotado pela “revolução verde”, promoveu alterações significativas, em especial àquelas de disputa e competitividade. Isso levou à perda dos valores culturais, do espírito de solidariedade e ao rompimento de relações comunitárias e dos valores da agricultura familiar.
A resposta para romper com este processo de desagregação social e cultural não é tão simples. As propostas passam por uma fundamentação de base da reformação das ações do poder público no atendimento dos agricultores e agricultoras familiares e camponeses. “Esta resposta será certamente pela valorização do trabalho e pela competência da gente do campo ligada à agricultura familiar, solidária e orgânica” (Ronald Mansur), não da vontade política de um governo.
Precisamos de uma agricultura preocupada com o agricultor, o consumidor e, sobretudo, em alimentar o nosso povo. Precisamos de uma agricultura que tenha como foco o ser humano e o respeito aos recursos naturais.