Texto de Adolfo Brás Sunderhus*
“Por um lugar na roça e no roçado, para todos e todas, mais justo e solidário!”
A partir de 2019 estamos vivendo uma gestão pública federal, com fortes impactos nos Estados e Municípios, que está carregada pelo ódio em todas as suas formas. Não aceita pensamentos divergentes e contraditórios ao seu entendimento. Cria um círculo vicioso alimentado pela intolerância e pelo preconceito social étnico. Não sabe fazer a leitura e o entendimento do que são políticas públicas e do entendimento da importância e do papel do Estado.
O sentimento que fica é o de que temos um governo e um governante que possui um pensamento tão fragmentado que se torna difícil o diálogo.
Já não vivemos mais o livre direito de estudarmos a política e o desenvolvimento sustentável das comunidades e dos povos da terra da floresta das águas e das cidades. Como construirmos uma nação?
Estamos diante de um governo federal que sequer sabe ou busca entender o que significa a definição mínima de geopolítica, que é expressa por ser uma área de conhecimento multidisciplinar que busca focar nas ações estratégicas, as políticas de relacionamento entre os Estados e Nações, que busca garantir o ganho de poder a partir de formas de relacionamento, interpretando os fatos atuais por meio de práticas e teorias de áreas da história, geologia, ciências humanas, meio ambiente e a própria teoria política, entre outras.
Dentro deste entendimento vivemos a era do desrespeito à diversidade social, cultural. A sociologia está ameaçada e já não tem espaço para explicar, e entender e aprender sobre a complexidade da vida, em sua linha histórica e atual, impedindo a projeção do futuro da sociedade. Estamos presenciando somente desavenças, quebra de parcerias, perda de divisas políticas, de relações sociais e mercados.
O que temos no governo federal é um gestor público que lhe falta uma proposta política cuja prioridade seja um projeto de desenvolvimento sustentável coletivo permitindo a todos e todas que dele participam, que possam crescer e se fortalecer. O projeto que está vigente tem como foco um crescimento individual, de baixo compromisso com o desenvolvimento sustentável e com o fortalecimento coletivo, uma realidade onde cresce e se fortalece as práticas individuais dos grupos políticos econômicos e sociais que se julgam conquistadores, dono (as) da verdade absoluta.
A sociedade precisa de organizar e romper com este paradigma, em que pese ser cúmplice ativa dos grandes males da humanidade: degradação ambiental; mudanças climáticas expressas por secas e enchentes; exclusão social que se apresenta pela pobreza e pela fome; perda dos valores culturais, da identidade e do pertencimento nacional e local; concentração da terra e das riquezas produzidas pelos trabalhadores (as); desenvolvimento com base no lucro e na sua centralização; enfermidades ambientais, de saúde pública e emocionais.
Governar não é um ato individual e autoritário. É um ato que exige desprendimento do poder e aceitação do esforço coletivo. Exige aceitação do contraditório. Impõe a necessidade do diálogo.
As mudanças só existem a partir da soma e da multiplicação, ou seja, do compartilhamento das decisões. Nenhum governo se estabelece e cria fortalecimento político e social pela divisão e pela subtração.
* Engenheiro agrônomo, operário da terra, aprendendo com as práticas e experiências dos/as agricultores/as familiares.
Texto originalmente publicado no Prosa na Roça