São muitos projetos trabalhados com o Assentamento Sezínio Fernandes de Jesus: o suporte na produção orgânica das famílias, a inserção em programas municipais e nacionais de alimentação escolar, incluindo o CDA (Compra Direta da Agricultura), intercâmbios e viagens. E ainda tem o Mulheres de Cacau, com aperfeiçoamento da produção de cacau de qualidade entre as agricultoras familiares do assentamento, e o projeto de sementes crioulas, para diversificação da produção de milho.
Mas há um trabalho sendo desenvolvido pela equipe do Escritório Local de Linhares, sob a coordenação do extensionista rural Daniel do Nascimento Duarte, que vem fortalecendo a aproximação das ações desenvolvidas pela Extensão Rural com a Agricultura Familiar, em especial com os assentamentos. A produção e instalação de biodigestores sertanejos faz parte das metas da equipe, assim como o fortalecimento da produção agrícola orgânica dessas famílias, a qual será certificada através de uma Organização de Controle Social (OCS) que vem sendo formada. Essa relação merece ser reconhecida e destacada.
“A agricultura familiar é fundamental no desenvolvimento do Espírito Santo, como um todo. Na minha perspectiva, é a agricultura familiar, que está presente em quase todos os municípios do Espírito Santo, que permite esse equilíbrio entre agricultura e bem-estar social, que permeia o nosso estado. Ela é uma agricultura que tem mais percepção sobre a necessidade de conservação do solo, conservação da água ao mesmo tempo que tem mais potencial para diversificar a produção de alimentos”, relata Daniel Duarte, coordenador do Escritório Local de Linhares.
Toda essa importância da Agricultura Familiar para o Espírito Santo também está presente no dia-a-dia de quem trabalha diretamente com as demandas, que se apresentam em diversas facetas, não somente no sistema produtivo, mas também na organização da agricultura familiar. “E tudo isso é possível porque se tem uma agricultura diversificada estruturada em pequenos estabelecimentos, que se organiza com mais facilidade em função das suas necessidades, do seu conjunto, e com demandas que passam a ser possíveis de serem atendidas a partir dessa negociação, principalmente para a comercialização”, reforça Duarte.
Experiência
Um exemplo dessa organização se faz presente nas ações que são desenvolvidas em conjunto com o Assentamento Sezínio Fernandes de Jesus, na região de Linhares. Criado em 2008, pelo Governo Federal, esse assentamento ocupa uma área de mais de dois mil hectares, onde vivem cerca de 140 famílias.
“O trabalho com o Assentamento Sezínio é antigo, a gente já atua na localidade desde quando estavam em barracas de lona”, por volta de 2008, explica Duarte. Ele conta que uma quantidade enorme de atividades já foi realizada, por diferentes membros da equipe do Escritório Local de Linhares. As mais recentes incluem o desenvolvimento de uma OCS e a produção e instalação dos biodigestores.
“É uma meta do escritório realizar a construção de 5 biodigestores em Linhares, sendo três no assentamento, além de seguir com o projeto de formar uma Organização de Controle Social – OCS, para que os agricultores familiares possam qualificar/certificar seus produtos na produção orgânica, incluindo a etapa de comercialização da produção”, pontua.
Biodigestores
Até o momento, no Assentamento Sezínio, já foram implantados três biodigestores sertanejos, que levam esse nome a partir da experiência da Diaconia, que desenvolveu mais de 800 biodigestores, principalmente na região do Nordeste. A demanda partiu do projeto da OCS, em que os agricultores familiares pontuaram suas demandas e necessidades. Um projeto, então, foi elaborado e realizado, com financiamento da Fundação de Amparo a Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (Fapes), por meio dos editais Portaria nº 002-R/2020 – Banco de Projetos de Pesquisa – SEAG e Universal Extensão 12/2022.
“Já realizamos um curso prático, no Assentamento, para construir o primeiro biodigestor e ele já está funcionando. A família dos Agostini já está cozinhando com o gás produzido no biodigestor. Os dejetos animais já disponíveis nas propriedades servem para produzir gás e também material orgânico de qualidade, fermentado, podendo ser aproveitados na adubação do solo e foliar”.
O biodigestor é uma tecnologia social, sendo composto de três caixas. A primeira é por onde o material orgânico entra; a segunda, que é a caixa maior, servirá de tanque de fermentação para que ocorra a transformação do material orgânico em gás; e a a terceira caixa, a de saída, libera o gás e o chorume, um fertilizante rico em nutrientes, já curtido e sem impurezas.
Diversidade
Só que falar de Agricultura Familiar também é falar de pluralidade e diversidade. Esses mesmos trabalhos desenvolvidos com as famílias do Assentamento Sezínio também foram realizados junto à comunidade Córrego Jacutinga, no distrito do Farias. O grupo, composto por nove famílias e impulsionado pelo Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), também foi atendido pelo projeto de criação de uma OCS, assim como deve receber os biodigestores sertanejos.
A equipe do Escritório Local de Linhares, por sinal, ainda tem uma ampla variedade de atuação junto aos diversos grupos de agricultores familiares no município. Um município que tem uma população rural complexa. “Para entender o tamanho dessa complexidade, só em Linhares há três tipos de pescadores: de rios, de lagos e de mares. Ainda temos marisqueiros, pescadores e aquicultores. Há agricultura familiar com quilombolas, povos indígenas. Tem-se também os agricultores familiares que estão na produção de café, pimenta, cacau, agroindústria, sem nos esquecermos dos assentamentos e de uma quantidade enorme de pessoas acampadas”, frisa Duarte.
Essa ampla área de ação e atuação demonstra parte da dificuldade que a equipe de Linhares tem para atender todas as demandas, principalmente por ser uma equipe pequena em relação ao tamanho do município e o número de propriedades. “Não temos uma pessoa da pesca que possa trabalhar aqui, assim como também não temos uma pessoa com foco nas agroindústrias. Essas ações contam com o apoio de outros escritórios, com profissionais de outras regiões nos ajudando no desenvolvimento das formações, capacitações e atendimento ao todo esse público, por exemplo”, diz.
O instrumento que nos ajuda a organizar as ações é o Proater, o Programa de Assistência Técnica e Extensão Rural, e que foi feito com o envolvimento dos agricultores, a partir de diagnósticos rurais participativos. “Temos demandas de toda sorte, envolvendo toda a gama de produção alimentar de Linhares. Mas, sem dúvidas, a nossa prioridade é sempre a agricultura familiar”, finaliza Daniel Duarte.
