Texto de Alex Fabian Rabelo Teixeira*
Chegamos a mais um Dia Mundial das Abelhas. Mais uma vez me sinto honrado pelo convite para escrever um texto comemorativo desta data. Apesar da satisfação enorme que sinto, também tem o peso da responsabilidade, principalmente pelo momento negativo que estamos vivendo mundialmente devido à pandemia, que no nosso querido Brasil é ainda mais agravada pela posição negacionista da ciência e pelo desmonte do setor ambiental e social, com o enfraquecimento dos órgãos de fiscalização, o crescimento assustador dos desmatamentos, das queimadas e de áreas clandestinas de garimpo; a liberação irracional de diversos agrotóxicos; o desrespeito às áreas indígenas e a paralisação das políticas de preservação.
Tudo isso reflete nos biomas, nas unidades de conservação, nos agroecossistemas, nas roças, nos jardins, na arborização urbana e nos nossos quintais. E por isso, todos os visitantes florais (a exemplo das aves, morcegos e insetos) associados à flora presente em todos os ecossistemas, perdem ou têm diminuída a disponibilidade dos recursos ecológicos essenciais para sua sobrevivência. Esses espaços servem de abrigos, ofertam materiais ecológicos utilizados na confecção e proteção dos ninhos (folhas, resinas, óleos e outros), contribuem na reprodução e, principalmente, são fonte alimentar (como néctar e pólen).
Dos visitantes florais, todos pagam o preço, mas as abelhas pagam o maior preço. Sua origem é de 146 a 76 milhões de anos atrás, exatamente a partir do surgimento das angiospermas (plantas com flores). Juntas, abelha e planta co-evoluíram e, com os processos de diversas especiações (formação de novas espécies), mantiveram e mantêm uma interação especifica e harmônica com as plantas com flores. Nesta interação, atualmente, estima-se que mais de 30 mil espécies de abelhas são responsáveis pela polinização de uma enorme gama de espécies vegetais nativas e cultivadas. Garantindo a formação de frutos e sementes e, consequentemente, a manutenção dos mais simples ecossistemas ao mais complexo.
Por isso é impossível escrever sobre as abelhas e a data destinada a elas sem fazer uma reflexão sobre as circunstâncias atuais que vivemos em nosso país. Mas devemos comemorar o Dia Mundial das Abelhas com esperança em dias melhores, na busca de maior respeito à natureza e de todos os seres vivos a ela associados, onde o homem deixa de ser o mais perverso e passe a conviver harmonicamente.
* Extensionista do Incaper, Biólogo, Mestre em Ecologia e Biomonitoramento.
