Texto de Jésus Fernando Miranda Barbosa*
Se você parar para pensar como a vida no mundo se sustenta, provavelmente vai começar a refletire vai se perguntar: como é possível estarmos todos vivos? E de onde vem toda a energia que consumimos para viver?
Eu fiquei particularmente curioso quando estudei um pouco de fotossíntese no ensino médio e, depois, um pouco mais profundamente no Mestrado em Biologia Vegetal. Toda aquela história e ciência por trás das reações químicas e físicas, usadas por nós para explicar os processos envolvidos no uso da luz pelas plantas. A luz, os nutrientes, o solo, a água, o crescimento e o desenvolvimento do vegetal, o florescimento e a maturação dos frutos, é tudo muito sincronizado e perfeito. Daí você pode concluir que a vida é realmente um milagre.
Como se já não bastasse a própria ciência por trás do fenômeno da fotossíntese, ainda possuímos plantas e animais com valor econômico, que dão além de alimentos e bebidas, a renda de muita gente. Arroz, feijão, café, chá, leite, ovos, carne, frutas e legumes, são exemplos de alimentos e bebidas cultivados. A lista é quase infinita. Mas o que significa ser cultivado? Significa ser conduzido de forma planejada para que sobreviva, cresça, desenvolva-se e dê frutos. Isso é diferente de ser apenas plantado, semeado ou solto na natureza, onde as plantas e animais teriam que crescer e lutar para sobreviver. Porém, para se cultivar uma planta ou criar um animal é preciso – além de todo o trabalho envolvido – a ajuda insubstituível da natureza. Nada, ou melhor, tudo, tudo seria em vão se não fosse pelo milagre da fotossíntese.
A fotossíntese conecta os seres vivos. Nosso mundo é composto por uma complexa rede de conexões que envolve todos os tipos de viventes. Essa rede gera uma rica biodiversidade que contribui para o perfeito funcionamento da natureza. Podemos dizer, então, que essa biodiversidade ajuda a manter vivos o planeta e a humanidade.
No entanto, cultivar alimentos e bebidas exige uma intensa interação do homem com a natureza. Essa interação, nos dias de hoje, tem um propósito: o nosso moderno modo de vida. Todos os impactos dessas ações têm um custo para a Terra. Não podemos ser ingênuos a ponto de pensar que o nosso padrão de vida não produz consequências negativas ao meio ambiente, como desmatamento, inundação de grandes áreas para construção de hidrelétricas e redução da biodiversidade, apenas para citar alguns exemplos. Mas também produz consequências positivas. Nos dias de hoje, qualquer cidadão de classe média possui mais conforto e comodidade do que um rei da idade média ou dos séculos anteriores à revolução industrial.
Esses benefícios da vida moderna são produtos da exploração dos recursos naturais. Quem estaria disposto a produzir o próprio alimento, a renunciar ao ar-condicionado, à geladeira, à eletricidade, ao gás encanado e à internet para manter a natureza intacta?
A Lei Federal n° 12.651/2012 define, em seu artigo 12, determina que todo imóvel rural deve manter uma área equivalente a, no mínimo, 20% do seu total com cobertura de vegetação nativa, a título de Reserva Legal. O que significa que restam 80% do imóvel para uso alternativo, produção de alimentos, bebidas e exploração geral da área.
O que podemos fazer então? Podemos exigir que a terra destinada à produção de bens seja cultivada obedecendo as normas legais e os padrões das boas práticas de conservação do solo e de outros recursos naturais. Os 20% restantes, definidos na Lei para conservação das Matas Nativas, devem ser protegidos e respeitados. Essa porcentagem destinada à preservação deverá ser inegociável e caberá à comunidade fazer com que a biodiversidade seja ali perpetuada.
Todo o trabalho desenvolvido, mesmo utilizando as técnicas e tecnologias disponíveis, ainda sim é dependente do correto funcionamento da natureza. De nada adianta o trabalho e a ambição do homem se a natureza não quiser ou não puder colaborar.
A biodiversidade é um importante fator associado ao relógio biológico da Terra. Portanto, sejamos coerentes e conscientes. Nós também estamos conectados a essa imensa rede da vida e ao milagre da fotossíntese.
* Engenheiro agrônomo, mestre em Biologia Vegetal e autor do livro “O que ninguém te contou sobre café”
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