É possível floresta e agricultura conviverem juntas. O projeto Biomas na Mata Atlântica, do Incaper, tem provado que não é preciso desmatar áreas destinadas ao uso agrícola e que há muito mais vantagens em manter plantações e árvores lado a lado num mesmo ecossistema. Lançado em 2010, o Projeto Biomas visa discutir e testar modelos de inserção da árvore na propriedade rural, por meio de pesquisas implantadas em uma área experimental em Linhares, que esta sendo recuperada, e na Área de Referência que é a RNV (Reserva Natural Vale), também em Linhares, região já equilibrada, preservada e com mata nativa.
Fabiana Ruas é uma das coordenadoras do projeto Biomas Mata Atlântica e conta que no começo foi preciso convencer o produtor rural a investir em árvores nas suas propriedades, principalmente porque o retorno financeiro é um pouco mais lento. Porém, logo que começaram a testar as primeiras combinações de árvores com plantações, as vantagens foram sentidas.
“Hoje em dia o produtor já procura saber quais as espécies de árvores são melhores para ele plantar junto com sua lavoura de café, quais ajudam a recuperar as nascentes e quais árvores geram produtos que ele pode vender depois. Há uma infinidade de vantagens com a combinação de agricultura e florestas”, diz Fabiana.
Consócio café com seringueira
Entre esses benefícios estão o conforto térmico para animais, para o ambiente e para os próprios produtores; conservação de água e solo; diversidade da renda e de produtos explorados na propriedade rural; otimização dos recursos como espaço, mão de obra, insumos, água, ou seja, plantios consorciados com árvores ocupam simultaneamente a mesma área e outros custos saem mais em conta, possibilitando aumento de renda.
“Incentivamos a possibilidade de renda do produtor com espécies florestais da Mata Atlântica, onde ele pode preservar a árvore explorando frutos ou outros produtos sem a eliminação das árvores, que continuam cumprindo todas as suas funções”, explica Fabiana.
Outra questão que a combinação de florestas e agricultura tem ajudado é na crise hídrica. “Essa crise hídrica que temos passado no Estado fez muito produtores repensarem o uso das árvores em suas propriedades. Culturas agrícolas que utilizam a árvore consorciada contribuem para maior manutenção e retenção de água no sistema e no solo”.
A pesquisadora também conta que o projeto possibilitou à equipe indicar as espécies a serem plantadas para cada tipo de solo, os tipos de espécies que efetivamente se desenvolvem melhor de acordo com o ambiente.
O projeto Biomas está contribuindo com a temática referente à legislação ambiental e florestal, no sentido de dar caminhos e respostas com relação a muitas questões citadas no código florestal e na prática de restaurações de ambientes e paisagens. O projeto tem uma rede com mais de 70 pesquisadores de mais de 50 instituições. Foram inicialmente 27 experimentos de pesquisa e hoje está com 17 áreas atuantes.
Fabiana Ruas finalizou explicando que o projeto é bastante amplo, mas está cumprindo seu papel em mostrar que o emprego da árvore na propriedade rural é positivo tanto para os produtores quanto para o meio ambiente.
