
O envolvimento do Incaper com a Agricultura Familiar não é de hoje. A relação do instituto com os/as agricultores/as mantém a pesquisa e a extensão como peças fundamentais para o desenvolvimento e o crescimento qualitativo da agricultura de nosso Estado. E em uma ação especial, realizada durante o ano de 2021, essa relação se mostrou ainda mais afetiva e próxima, promovendo hábitos alimentares saudáveis e resgatando receitas tradicionais da Agricultura Familiar de diferentes regiões do Espírito Santo.
Esse trabalho, coordenado pelas servidoras do Incaper Aline Chaves e Ana Penteado, foi chamado de “Receita da Minha Terra”. E ainda teve o cuidado de promover a valorização de ingredientes regionais que compõem a cesta verde distribuída pelo Projeto AlimentarES, tendo a participação direta da equipe de referência em segurança alimentar e estruturação da comercialização do Incaper, formada por economistas domésticos.
Esta é a segunda entrevista do projeto “O Incaper é nosso!”, que contém uma série de reportagens apresentando os servidores e as servidoras que são responsáveis pelas ações e pelos trabalhos desenvolvidos pelo Instituto. Dessa forma, a ASSIN defende e reconhece a importância dos/as profissionais do Incaper para o crescimento e o desenvolvimento da sociedade capixaba.
Confira logo abaixo a entrevista completa que fizemos com as servidoras Aline e Ana Penteado, integrantes da ação.
Primeiro, podem falar mais sobre o Projeto AlimentarES? Como ele funciona e quem é atendido pelo projeto?
O Projeto AlimentarES foi lançado pelo Governo do Espírito Santo em 25 de junho de 2020, como parte das ações de enfrentamento aos impactos provocados pela pandemia da Covid-19, sendo pensado como um instrumento propulsor de ações e práticas alimentares saudáveis para a população capixaba. Um dos objetivos do Projeto é distribuir “cestas verdes” produzidas por agricultores familiares capixabas, de forma a complementar os donativos distribuídos pelo Programa ES Solidário para as famílias em situação de pobreza e extrema pobreza, contribuindo assim para a melhoria da qualidade nutricional das cestas básicas já ofertadas.
Além disso, o projeto visa a conscientizar os capixabas sobre a importância do consumo de alimentos saudáveis, evidenciando os valores nutricionais dos alimentos e seus benefícios à saúde. Ele está sob a coordenação geral da Vice Governadoria e tem coordenação executiva do Incaper, tendo envolvido a articulação e promovido a intersetorialidade entre diversas secretarias e órgãos do Governo, além de instituições parceiras.
A partir do AlimentarES vocês realizaram uma ação de valorização de receitas tradicionais. Podem nos contar como surgiu essa ideia e quais eram os objetivos?
Também em 2020 foi criado um plano de ação Campanha AlimentarES, e uma das ações foi a promoção das receitas tradicionais da agricultura familiar, das comunidades e dos povos tradicionais. Porém, não conseguimos executá-la no mesmo ano. Assim, em 2021, fizemos uma avaliação do projeto e sentimos a necessidade de ter uma ação que mostrasse e valorizasse a agricultura familiar e então promovemos a ação “Receita da Minha Terra”. O nome da ação faz referência aos ingredientes produzidos pelos agricultores, bem como à localidade do prato.
Essa ação veio também como incentivo aos hábitos alimentares saudáveis, com o objetivo de resgatar receitas tradicionais da Agricultura Familiar de diferentes regiões do Espírito Santo, cujos ingredientes principais são alimentos regionais que compõem a cesta verde distribuída pelo Projeto AlimentarES.
Como essa ação aconteceu e quantas pessoas participaram dela? Há previsão de realizar novamente?
A ação se iniciou com uma articulação da equipe de referência em segurança alimentar e estruturação da comercialização do Incaper, formada por economistas domésticos, e que selecionou oito receitas em diferentes regiões do estado: o Brote, da Comunidade Córrego Cascatinha do Pancas, em Colatina; o Bolo de milho verde, da Comunidade Ilha do Gato, em Itapemirim; o Hambúrguer de casca de banana, do Assentamento Floresta, localizado no município de Alegre; o Molho de tomate orgânico, do Assentamento Rodeio, em Nova Venécia; a Moqueca de caranguejo e muma, da Comunidade Tupiniquim de Chapada do A, na cidade de Anchieta; o Bolinho de flor de abóbora, da Comunidade Patrimônio do Ouro, em Castelo; o Mingau de fubá com couve, do Grupo de Mulheres da Comunidade Quilombola Córrego do Sossego, em Guaçuí; e o Bolo de aipim, da Comunidade Viçosa, no município de Conceição de Castelo.
As receitas foram divulgadas via Webcards no Instagram do Incaper, em três fases. Na primeira fase, de 24 de agosto a 02 de setembro de 2021, as oito receitas foram apresentadas em duplas, para a votação do público. Na segunda fase ou semifinal, feita nos dias 09 e 10 de setembro, as quatro receitas mais votadas voltaram para apreciação do público. A partir da escolha das duas mais votadas foi feita a fase final, realizada no dia 14 de setembro, com votação entre as receitas de Bolo de milho verde e de Moqueca de caranguejo e muma, sendo a moqueca a mais votada.
Em todas as fases, a visualização das receitas permaneceu por 24 horas no Instagram e a votação aconteceu nos stories. Assim que as primeiras receitas foram divulgadas, foi possível constatar o alcance da ação diante do significativo número de interações no Instagram do Incaper. Somente na fase final, por exemplo, foram 1.427 visualizações. A soma de todas as fases chega a 4.511 visualizações. E diante desse feedback, nossa ideia é de realizar novamente a ação, ampliando o número de receitas e abrangendo mais agricultores familiares.
A ação foi coordenada por nós (Aline Chaves e Ana Penteado) e contou com a atuação de mais 17 profissionais, entre coordenadores e pessoal técnico de Segurança Alimentar, Comunicação e Marketing, Transferência de Tecnologia, todos do Incaper. E como premiação foi produzido um vídeo (confira logo abaixo) com a vencedora do concurso. O material foi publicado no canal do YouTube do Incaper.
Qual a importância de se resgatar as receitas tradicionais?
A ação é importante para a promoção do incentivo aos hábitos alimentares regionais, bem como o consumo de alimentos naturais mais saudáveis, produzidos principalmente pela Agricultura Familiar. Ela também resgata o modo de fazer tradicional, identificando os saberes, os valores culturais e a memória afetiva que cada receita representa para as agricultoras, suas famílias e comunidades.
O que vocês aprenderam com essa ação e de que forma ela contribui para o fortalecimento da Agricultura Familiar?
Para nós, e acreditamos que para todos que participaram, foi muito gratificante fazer parte desta ação. Foi enriquecedor ver as famílias e comunidades, as “donas das receitas”, se organizarem e movimentarem as redes sociais para a votação, mesmo sabendo das dificuldades que muitas dessas pessoas enfrentam com relação ao acesso à telefonia móvel e internet.
Foi uma ação de comprometimento de vários profissionais, de diferentes expertises, lotados em vários municípios. A maior parte das etapas, como a pactuação da ação no GT Campanha do Projeto AlimentarES, as reuniões de planejamento e a sistematização das receitas, assim como a elaboração conjunta de webcards, de matérias escritas e do vídeo, foram realizadas por meio de reuniões online, mensagens via WhatszApp e emails. Foi nossa primeira experiência nessa estratégia de trabalho remoto e se mostrou muito produtiva.
Também ficamos muito felizes em ver a repercussão de “Receita da minha terra” em outros espaços de promoção de segurança alimentar. Fomos convidadas a apresentar nossa experiência em aula da disciplina de “Alimentos Funcionais, orgânicos e regionais”, para o Curso de Nutrição da UFES, ainda em setembro de 2021; e fomos classificados na II Mostra Estadual de Experiências em Segurança Alimentar e Nutricional do Espírito Santo, promovida pela Setades. Posteriormente, em novembro do ano passado, realizamos uma apresentação presencial no auditório da Setades, com transmissão simultânea via plataforma Zoom.
A ação contribuiu para o fortalecimento da soberania alimentar da Agricultura Familiar e de comunidades e povos tradicionais, bem como valorizou e deu visibilidade à cultura alimentar, conforme o depoimento de Shirmerly de Oliveira Pereira, da Comunidade de Chapada do A, no município de Anchieta:
“Foi muito gostoso participar e divulgar um pouco mais nossa comunidade. Muitas pessoas do nosso grupo mesmo não sabiam como fazer a moqueca e a muma. O objetivo nosso é preservar nossa cultura. A comunidade se sente feliz porque ainda tem muito preconceito porque somos descendentes de indígenas”.
Agradecemos aos nossos colegas e às famílias e comunidades que confiaram no nosso trabalho e nos permitiram compartilhar com todos um pouco de seus “tesouros culinários” e de suas histórias de vida. Agradecemos, também, aos Economistas Domésticos que realizaram toda a articulação junto às agricultoras familiares e com os grupos, cuja atuação comprometida com a extensão rural permitiu a seleção das receitas que participaram da ação. E à ASSIN, pela oportunidade de mostrar um pouco do nosso trabalho.
Desejamos sucesso à nova gestão.