
Texto de Adolfo Brás Sunderhus*
Se nada mudou, o que vejo e que temos aqui, no Espírito Santo, são um Governo e gestores públicos cansados, correndo, como diz o ditado popular, “atrás do próprio rabo, com medo de morder e de ser mordido”.
E pelo que se vislumbra no cenário político local, diria que para muitos desses ditos “políticos” falta pouco, muito pouco, para assumirem a máxima de outro ditado popular: “parece até cachorro que caiu do carro da mudança”. Só que agora, diante de tanta falta de compromisso e de responsabilidade pública, fica o sentimento de que a sociedade não volta para “apanhar esse cachorro”, “ele/a vai ficar para trás”.
E por que vai ficar para trás? Por já demonstrar um forte cansaço, quer seja em suas ações executivas quer seja nas ações legislativas. Por estarem desarrumados diante da nova visão e pensamento crítico da sociedade e dos/as trabalhadores/as, sobretudo os/as do setor público. Ficarão para trás, em especial, aqueles/as que mantêm os vícios da “velha política”, a qual não tem mais espaço neste ambiente social econômico e, sobretudo, diante de uma nova representação dos movimentos sociais e sindicais. Ficam para trás porque suas permanências políticas, nesta última década, mostram que não sabem por onde recomeçar, por onde se reinventar diante da realidade do Século XXI.
Diante das urgências, das violências e das doenças que vivemos no Século XXI não cabe mais gestores contextualizando suas ações, em administrar e legislar, dentro de uma visão individualista, pessoal, soberba e de natureza, por vezes, imponente e “magnífica”.
Não cabe mais a visão distorcida e pequena da desconstrução da gestão anterior, pois o que existe é uma gestão de Estado que está muito, muito longe de ser entendida e respeitada no processo político e em sua sucessão natural. Essa negação é uma prática que remonta os resquícios da velha e tacanha visão política, que não cabe mais neste momento de transformação e de mudanças que vivemos na sociedade. É preciso urgentemente que esses/as gestores/as executivos e legislativos tirem a “velha roupa” que ainda está pendurada no armário da vaidade de seus cargos, como se estivessem esperando cumprir com o mesmo espetáculo.
Está na hora do Estado discutir de forma séria e estratégica o seu destino e o de sua sociedade. Vale a pena, sim, pensar e agir pela credibilidade da política como ferramenta pública necessária ao crescimento e desenvolvimento sustentável local e territorial. Para que assim o destino, o futuro a ser discutido, deva ser o do Estado e não daquele da permanência no cargo público executivo ou legislativo. E que se assim não for certamente estará perdido toda crença nas institucionalidades públicas e nos poderes constituídos. Não podemos viver e conviver com atos e atitudes políticas que preferem o “tapinha nas costas” e o “tomar café na cozinha” do que ter o Estado agindo de forma estruturante, com qualidade e em quantidade de serviços, para agir diante das necessidades da sociedade.
Por fim, o Estado precisa urgentemente de que sua equipe de gestores executivos e legislativos tenha o conhecimento da realidade que se põe e, sobretudo, tenha a criatividade, a competência e a capacidade de inovar em suas ações de forma proativa. É preciso que o Governo conheça sua equipe de gestores, vencendo a soberba de enaltecer suas qualidades para que, assim, possa também conhecer suas limitações e deficiências, corrigindo-as diante da falta de ações.
O Estado e a sociedade não suportam mais carregar o peso da vaidade, da soberba, do autoritarismo e da falta de diálogo, todos ainda tão presentes. É preciso que o Estado tenha gestores e legisladores capazes de retirá-lo da condição de paralisação.
A sociedade exige do Estado uma ação menos corporativa e mais ativa, coerente e comprometida com os cidadãos e as cidadãs. Por isso, em 2022, precisamos ter a sociedade e os movimentos sociais e sindicais presente e alertas.
* Engenheiro Agrônomo, extensionista aposentado do Incaper e operário da terra. Aprendendo com as experiências e práticas dos povos da terra da floresta e das águas.
(Publicado em >>https://prosanaroca.wordpress.com/2021/10/27/governo-pra-enxugar-gelo-ou-atender-a-sociedade-parte-ii/)